Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 6ª edição | Page 27

LiteraLivre n º 6 – novembro de 2017
poderíamos passar para os quarenta e um , que é mais ameno , tem um pouquinho da suavidade do número um que acompanha o número tão , tão póft ! Pumba ! Crás ! Crise dos quarenta ? Crise , crise ... É talvez . Crise pela pele flácida do meu rosto e pescoço e pelos tantos e tantos fios de cabelo brancos . Crise pelos sonhos não atingidos , mas que teimam em não se deixar exterminar . Sonhos que se escondem em algum canto a cada nova faxina , não se deixam jogar fora . Crise pelo tempo pela frente que já não é mais tão longo . Crise pelo que foi feito até agora e pelo que não foi feito . Pelos baldes que não chutei , pelos saltos de aza delta que não dei , pelos trens que eu vi passar sem embarcar . Crise pelos passos incertos que eu caminhei , pelas maioneses que desandaram , pelos castelos de areia que eu não impedi que as ondas lentamente destruíssem , mas se eram de areia ... Impedir ? Os quarenta marcam experiência e nova fase de vida , com mais sabedoria . Bobagem ! Conversa ! Vou continuar errando , deixando de acertar . Os quarenta são apenas mais uma data , só um envelhecer físico . A menina que brincava de ler as palavras de trás pra frente ainda faz isso . Que brincava de faz de conta a ponto de desligar-se do mundo real . Fugia ( foge ) pro mundo que inventava ( que inventa ). Tão boba e desengonçada ainda brinca nas ondas do mar . A adolescente que ainda come calda de chocolate de colher e não engorda ( ah essa é de dar inveja !). Aquela que usava tênis Bamba Monobloco e botas brancas , hoje as botas são pretas e os tênis All Star . Que desenhou e escreveu de cima a baixo todas as paredes de seu quarto de dezoito anos , ainda escreve , mas não mais nas paredes . Há agora , além dessa menina , uma mãe que embala o filho nos braços querendo protegê-lo das dores do mundo e que observa a alegria da filha com medo de tudo o que ela sabe que virá trair seus sorrisos . Muitos me dirão dos quarenta que é preciso agradecer ter vivido até então ,
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