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LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017
Aos Trinta e Dez!
Denise Flores
Alvorada/RS
O dia tão temido chegou. O relógio acusou o horário que consta na certidão de
nascimento. Os quarenta anos foram completados, irremediavelmente
atingidos.
Pensei em momentos vividos dos quais tenho saudade. Busquei na memória
cenas antigas, desde a infância, dias, horas felizes que gostaria de reviver.
Ainda é cedo para fazer um balanço? Dizem que a vida começa ou recomeça
aos quarenta anos. Frase clichê, motivacional. Fazer quarenta anos não tem a
alegria de fazer vinte e nem a conformidade de fazer sessenta. O número
quarenta não designa nada, é meio-termo. É meio caminho, é água morna.
Avisei os mais chegados para não me ligarem, os telefones estariam
desligados. Pedi que não me escrevessem mensagens, não queria felicitações
por tão estranha idade.
Acordei pensando sobre os quarenta anos vividos. Não acho que mereçam
comemorações, mas um texto, ah um texto sim, é preciso! Escrever é sempre
bom, é importante, é registro do que se pensa e sente. Ainda tenho um
caderno com coisas que escrevi na adolescência e que hoje leio e acho tão, tão
bobas, mas que dizem exatamente quem eu era.
Quarenta é pesado! Tem som de palavrão. – Sua quarenta! –Ora, vá se
quarenta!
Quarenta é equívoco. Deveríamos completar trinta e nove e no ano seguinte
trinta e dez! Como crianças que estão aprendendo a contar. Depois disso então
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