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LiteraLivre n º 6 – novembro de 2017
Gabriel Araújo dos Santos Campinas / SP

A Noite com Anália

Bernardino, ou Dino, como todos o chamavam, não via a hora de terminar a missa daquela manhã de domingo.
Entrara para onze anos de idade, danado de ativo, respeitava a todos, em especial os mais velhos, e a muitos tomava a bênção, mesmo não houvesse nenhum parentesco entre eles, costume reinante no perdido lugarejo do interior das Gerais.
Mês de julho, férias escolares, queria tirar o máximo dos dias que ainda lhe restavam de folga e retornar à Fazenda do Suassuí Pequeno, propriedade do Tio Quincas, de onde regressara há uma semana, e prometeu a Anália que logo estaria de volta.
A liturgia daquele domingo era por demais comprida, e agora entoavam a ladainha de todos os santos, uma lerdeza de cantoria, aquilo se arrastando e parecia não ia acabar nunca..
Ele estava longe, os pensamentos lá no Suassuí, melhor dizendo, na figura jovial e terna e alegre de Anália, morena nascida e criada ali na fazenda, órfã de pai e mãe aos quatro anos de idade, por conta do desmoronamento de uma lavra de malacacheta nos domínios da propriedade onde eram agregados.
Agora com quinze para dezesseis anos, via-se disputada por todos os moços da redondeza, mas ninguém chegava perto, que o Tio Quincas, bravo que ele só, nunca ia deixar que ela fosse levada para outras bandas, e isso ele prometeu à D. Marcelina, avó paterna de Anália, quando se despedia deste
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