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LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017
Perpétua
Aparecida Gianello dos Santos
Martinópolis/SP
História antiga. Crônica. Quem sabe, perpétua. Não. Isto não é um conto de
horror como um daqueles que se via no Cine Trash. Até porque Perpétua vive,
em algum lugar – no além-túmulo, sei lá... –, perpetuando o meu pouco juízo.
Gosto estranho bem que poderia intitular esta, mas Perpétua há muito tem
assombrado minhas ideias, de modo que assim começo: Perpétua. Fora ela a
culpada pelo meu estranho gosto. Sou do tipo que não pode ver um portão de
cemitério aberto que vou logo entrando. Mas calma, não é para tanto. Não
furto objetos, nem violo túmulos. Tampouco faço sessões, despachos ou coisas
do gênero. Tudo bem, chega de suspense. Adoro ler lápides. Pronto. Falei.
A princípio, ainda na tenra idade, meu gosto era só pelas guloseimas deixadas
nas catacumbas, especialmente nos Dias de Finados (tradição oriental, eu
acho). Comia tudo o que encontrava, mas com uma pequena restrição:
– Só coma os embrulhados, e, antes, peça ao morto! – ralhava tia Maria.
Depois de algum tempo, já sabendo o bê-á-bá e não podendo mais conter o
comichão do querer aparecer a qualquer custo (a boquinha já não queria só
comida), era mirar numa palavra para dispará-la aos ouvidos todos que
estivessem em volta. Trágico Finados, aquele. Foi quando a coisa toda
começou e ela surgiu do nada me fazendo pagar de tolinha na frente dos mais
velhos. Para tanto bastou que meus olhos fixassem naquelas discretas
plaquinhas rentes ao chão, nos pés de cada túmulo. E...
– Perpétua, Perpétua, Perpétua... Credo, quantas Perpétuas enterradas aqui,
neste mesmo cemitério!
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