LiteraLivre n º 6 – novembro de 2017
Pequeno Desabafo
Bruno Bastos Santos Salvador / BA
Eu me pego fumando mais um cigarro, em mais uma tarde aleatória, com um senso de dever negativo, sem entender o que sinto, o que vejo, o que o mundo quer que eu saiba. A vida segue sempre parada, sem sonhos, com pequenos sonhos, com alguns objetivos que poderiam ser concluídos sem o menor esforço, caso o mundo não fosse mundo. As pessoas me enxergam como um simples vagante, como um ponto no meio de vários traços, como um medroso que não sabe o que é sentir. Sinto medo, sinto frio, sinto-me perdido. Acendo mais um cigarro, o tempo não passa tão rápido quanto antes e ainda assim corre, a carteira que antes durava dias hoje dura um dia, hoje dura apenas algumas horas, quem sabe quanto irá durar amanhã. Sinto algo, não sei bem o que sentir. Espero sentir algo, não sei se algum dia eu vá conseguir. Acendo terceiro cigarro antes de terminar de escrever esse pequeno desabafo, perdido no medo da morte, perdido em meio ao medo de estar vivo. Não sei bem como gritar, não sei nem mesmo se terei voz para gritar, apenas sigo com medo, sentado em uma cadeira, como em todos os outros dias, como será até o fim da minha vida, procurando espaços para me sentir um pouco mais confortável e quem sabe com um pouco menos de medo.
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