Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 6ª edição | Page 79

LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017 para ver se entendia o motivo da alegria ou infelicidade dos outros.Tentava encontrar nos outros a sua própria identidade. Observava os casais, os amigos nas baladas, em barzinhos, a família quando estava unida,tentava encontrar seu lugar na sociedade. Chegou a conclusão, depois de muito observar e errar, que se encontrasse um marido, tivesse um lar, filhos, uma vida familiar mais unida, conseguiria encontrar a felicidade e conseguiria encontrar a si mesma. Viveu o que acreditava que seria sua salvação. Teve um casamento lindo, com quem amava, teve filhos lindos e uma suposta felicidade invadiu seu ser de tal forma que ela pensou que seria para sempre - como todo final de história infantil. Não demorou para perceber que não poderia encontrar no outro o que faltava em si mesma. A família construída preenchia uma parte da vida de Regina, com tanto amor que ela nem julgava merecer,mas e o restante, a outra parte, o vazio?Era preciso conhecer a si mesma para retribuir esse amor, era preciso amar-se antes de oferecer amor. A angústia por não saber porque veio ao mundo, o sentimento de inutilidade, a solidão, mesmo em meio a multidões, a infelicidade de querer fazer os outros felizes, mesmo ela não sendo, o medo de não conseguir ser alguém na vida, a incerteza de continuar buscando caminhos que sabia que estava errado, já a estava desgastando por completo. Regina andava pela rua, meditando sobre os acontecimentos da sua vida, procurando encontrar sentido na sua história, buscando no passado algum fato que justificasse tantas incertezas.Não encontrou no marido a sua metade, não encontrou na religião o Deus que julgava existir, não encontrou nos filhos o instinto de viver e morrer por eles, não encontrou a sua essência. E, caminhando lentamente sobre o seu apartamento no 11 ° andar do prédio, foi percebendo que nada valia a pena quando não se tinha uma identidade, quando não se sabe o que falta em sua vida e quem se é de verdade. Percebeu que a beleza, só é importante nos primeiros 15 minutos, depois é preciso ter algo a mais pra oferecer. Continuou caminhando, pensativa. Chegou ate a janela e pensou: “ Se eu não tenho motivos para estar aqui, não é preciso que eu aqui esteja”. Pulou. 74