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LiteraLivre nº 6 – novembro de 2017
Entrelinhas
Isabel C.S. Vargas
Pelotas/RS
...entre raios, pedradas e metralhas,
ficou
gemendo,
mas
ficou
sonhando.
(Triunfo Supremo) Cruz e Souza
Esta epígrafe é de um poema do autor citado. Segundo sei é também seu
epitáfio. Tal texto não me remete à guerra, conflitos, mas a uma situação
relacionada à superação, resistência e autoestima e que é denominada
resiliência. Tal termo é empregado na física para indicar a capacidade dos
materiais de voltarem ao estado normal após sofrerem grande pressão ou
impacto. Não é usado só na física, mas em outros campos do conhecimento. A
psicologia usa o termo para indicar a capacidade que a pessoa tem de se
recuperar de grandes traumas, sofrimentos, abalos emocionais e seguir em
frente, o que não significa que não foi atingido o bastante. É um enfoque
diferente, que ao invés de analisar patologias, analisa ou estuda as respostas
positivas do ser humano.
É a capacidade de resiliência que vai explicar porque uns conseguem a
superação de tragédias, perdas enquanto outros sucumbem.
É estudada também no campo pedagógico.
A vida do poeta em questão é um exemplo de resiliência. Nascido em
Desterro, hoje Florianópolis, filho de escravos foi alforriado e acolhido na casa
do Marechal Souza como filho. Estudou, mas com a morte dos protetores é
obrigado a largar os estudos e trabalhar. Sofre perseguições e é proibido de
assumir o cargo de promotor público por ser negro. A sua mulher enlouquece
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