Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 5ª edição | Page 35

LiteraLivre nº 5 - Setembro de 2017 Caçamba Victor Rosa Ituiutaba/MG Foi bem na hora em que abri a porta. O homem deu um tiro na mulher, me viu e saiu correndo. Eu tinha visto tudo. Mas, o que poderia fazer? Eu, um humilde aposentado, inofensivo, pacato e simples. Poderia jogar o corpo na caçamba do outro quarteirão, tirar aquilo dali, para não ficar um mau cheiro na frente da minha casa. O que será que uma mulher já de idade, uma senhora, deveria ter feito para estar morta com aquela bala na cabeça? Não sei. E, pensando bem, prefiro não saber. Para que eu vou me envolver nisso? Eu estou dentro da lei e quero ficar longe de confusão. Melhor esquecer o que eu vi. Depois do susto, fui ao bar, o mesmo de sempre, relaxar. Todo dia bebia algumas cervejas lá. Boteco de esquina, copo sujo, só tem frequentadores do sexo masculino, normalmente com barriga avantajada. Tenho esse direito, trabalhei muito na minha vida para desfrutar de tardes livres e relaxadas. Já era aposentado e não pretendia ter mais nenhuma preocupação na vida. Já havia passado o trauma. Como de costume, joguei longas partidas de sinuca com os amigos. Já estava com a mente acalmada, quando aquele bêbado imbecil começou a falar que iria se candidatar a vereador, e que, se votássemos nele, ele investiria em segurança para a população, para ninguém se preocupar com assaltos e homicídios. Bêbado imbecil. Inevitavelmente, lembrei do assassinato que vi. Bêbado. 30