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LiteraLivre nº 5
- Setembro de 2017
Caçamba
Victor Rosa
Ituiutaba/MG
Foi bem na hora em que abri a porta. O homem deu um tiro na
mulher, me viu e saiu correndo. Eu tinha visto tudo. Mas, o que poderia
fazer? Eu, um humilde aposentado, inofensivo, pacato e simples. Poderia
jogar o corpo na caçamba do outro quarteirão, tirar aquilo dali, para não
ficar um mau cheiro na frente da minha casa.
O que será que uma mulher já de idade, uma senhora, deveria ter
feito para estar morta com aquela bala na cabeça? Não sei. E, pensando
bem, prefiro não saber. Para que eu vou me envolver nisso? Eu estou
dentro da lei e quero ficar longe de confusão. Melhor esquecer o que eu
vi.
Depois do susto, fui ao bar, o mesmo de sempre, relaxar. Todo dia
bebia algumas cervejas lá. Boteco de esquina, copo sujo, só tem
frequentadores
do
sexo
masculino,
normalmente
com
barriga
avantajada. Tenho esse direito, trabalhei muito na minha vida para
desfrutar de tardes livres e relaxadas. Já era aposentado e não pretendia
ter mais nenhuma preocupação na vida.
Já havia passado o trauma. Como de costume, joguei longas
partidas de sinuca com os amigos. Já estava com a mente acalmada,
quando aquele bêbado imbecil começou a falar que iria se candidatar a
vereador, e que, se votássemos nele, ele investiria em segurança para a
população, para ninguém se preocupar com assaltos e homicídios.
Bêbado imbecil. Inevitavelmente, lembrei do assassinato que vi. Bêbado.
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