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LiteraLivre nº 5 - Setembro de 2017 os direitos para uma adaptação para o cinema. As gravações do filme ocorreram entre os dias 25 de maio e 3 de agosto daquele mesmo ano. O filme foi rodado nos estúdios da Warner Brothers, com exceção da cena inicial do aeroporto que foi rodada no Aeroporto Van Nuys, em Los Angeles, e do clip mostrado com cenas reais de Paris que aparecem na cena do flashback. Há claros elementos de Propaganda Anti-Nazista no filme. Por exemplo, a própria abertura do filme na voz de Lou Marcelle, que fez narração em duas dezenas de filmes na década de 1940, baseia-se na ideia de criar no espectador a verossimilhança com a realidade, como se fosse o cinejornal comum na época. Ao transportar a realidade para o campo da ficção, busca-se trabalhar os elementos necessários na formação de um quadro amplo que permita uma análise da realidade com base em personagens fictícios. Ao criar a identificação do espectador com a realidade, o filme permite a construção do consentimento ativo (plano das ideias) e de um posicionamento pró-ativo (plano da ação), atingindo-se assim o objetivo da Propaganda Anti-Nazista. Provavelmente, o elemento de Propaganda Anti-Nazista mais oculto no filme seja o de ter o desejo de ver o coronel Strasser morto, desde o começo do filme, e esperar este acontecimento com grande expectativa na sequência final. Logo no início da película, há a imagem do avião com o prefixo D-AGDF aproximando-se para aterrisar no aeroporto. A frase Death to Acting Great Dictador Führer seria uma mensagem subliminar? O prefixo do avião D-AGDF parece um epitáfio para um caixão pousando na pista do aeroporto. Após o avião taxiar e parar, com a imagem congelada do filme, pode-se ver claramente uma pequena bandeira com a suástica nazista, ao lado da porta do avião, e outra bandeira bem maior no leme do avião. Além disso, quando o coronel Strasser desce do avião, há a saudação nazista ao seu ajudante de ordens, o capitão Heinze, bem abaixo das letras GDF que estão na asa do avião. Vale lembrar que, dois anos antes do filme Casablanca, havia sido produzido o magnífico filme The Great Dictador (1940) de Charles Chaplin. Portanto, as letras GD já estavam no imaginário coladas à figura de Hitler. O filme Casablanca acrescentou o F (de Führer) nesta cena e, assim, de maneira inconsciente, deseja-se a morte do nazista, que está atuando no lugar de Hitler, naquele lugar distante na ficcional Casablanca do filme. Casablanca possui um gênero híbrido que é muito diferente dos outros filmes de sua época. Isto foi amplamente analisado por Umberto Eco no paper "Casablanca: Cult Movies and Intertextual Collage", apresentado no Simpósio de Semiótica, em 1984, em Toronto, no Canadá. A análise semiótica considera 133