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LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018
Helênica
Paulo Ras
Paranaguá /PR
Não me abandone em meio ao cerco dos três mil dias.
Jamais morrerei por Troia,
Jamais me desatinarei da vida.
Sou todas as Helenas que puder ser,
E tornarei ao meu aconchego,
Aos meus laços, ao meu leito.
Não ficarei à margem do destino,
Não me entregarei às perversões dos bárbaros,
Dos insanos, dos fracos.
Coroarei a mim mesma,
Corarei a plateia estupefata com os panos leves,
Translúcidos, voando pelo ar até então sem perfumes.
Verão minha nudez tácita,
Meus acordos mágicos,
Meu poder fêmea,
Minhas devassidões ininteligíveis e silentes,
Que só explico em detalhes
No teu ouvido tolo de fingir inaudições.
Sou todas as deusas do teu panteão tão decadente.
Sou profusa, confusa,
Mil perdões em um seio,
Mil desejos em outro.
Escolha, farte-se então da minha clemência
E das minhas fomes
Prostrado aos meus pés
Feito o último suspiro desesperado
Ecoando pelo resto dos teus dias.
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