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LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018
dela... e sinto uma parcela de culpa, também, por saber que ela não estará aqui
para ver o Pedrinho crescer.
A chuva começa, precisamos ir embora. Ele diz que quer ficar e chora. Pergunta
pela mãe... não sei o que dizer. Sento-me ao seu lado enquanto a chuva
engrossa. Se eu não soluçar como quando estou sozinho ele nem vai perceber
que eu estou chorando também. Precisa de mim, mas não tanto quanto eu
preciso dele: é por ele que eu ainda estou aqui, fingindo ser forte. Puxo-o para
um abraço, o vento frio me arrepia. No céu, relâmpagos iluminam as nuvens de
quando em quando, como flashes eternizando nosso luto: melhor irmos embora.
Ele se demora um pouco, ainda, mas para de relutar.
O caminho de volta para casa é silencioso. Quando chegamos, peço-lhe que tome
um banho quente para evitar um resfriado. Ele vai direto para o banheiro e nem
presta atenção à sala de estar.
Esperamos por ele ali, mas não por muito tempo. E quando ele nos vê não
segura um sorriso tímido. Poderia ter sido uma festa surpresa, mas achei de mau
gosto e todos concordaram. Não sei se ele seria capaz de suportar, mas tenho
certeza de que eu não conseguiria.
Os dias difíceis estavam só começando, e enfrentá-los sozinhos era ainda mais
doloroso. Sua mãe é insubstituível e o lugar dela em seu coração está guardado
pra sempre... mas eu duvido que não haja espaço nele pra um cachorrinho.
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