Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 10ª edição | Page 66

LiteraLivre Vl. 2- n º 10 – Jul / Ago. de 2018
Era um anel pesado, com uma pedra amarela e polida, e me atingiu no olho. Doeu tanto que, se penso nisso, ainda quero chorar. Meus pais já me levaram para o hospital muitas vezes. Os médicos dizem que é muito provável que eu perca meu olho. Meus pais estão muito preocupados e tristes, mesmo que eu tente tranquilizá-los que não tem nada a temer. Eu já perdi três dentes e todos eles cresceram de novo. Com certeza, se eu perder meu olho, também vai crescer de novo. Por enquanto, estou com uma venda. Eu estava de olho tampado mesmo quando fui à loja do Farid. Antes de me fazer sentar no banquinho, mamãe perguntou se podia tirar a atadura.— Por favor, mãe, não!- Eu disse. E antes de acrescentar qualquer outra coisa, Farid sorriu para mim e me disse para não me preocupar porque ele teria tirado fotos muito bonitas. Então ele se aproximou de mim e, com dois toques leves, colocou meus ombros e meu rosto. Ele pegou a máquina, muito mais bonita do que a do pai, puxou o botão e deu vários cliques. Quando ele terminou, foi para outro quarto. Eu queria segui-lo, mas mamãe me impediu. E é aí que ele fez a mágica, porque quando ele voltou e me deu as fotos, elas eram lindas demais. Nas fotos de Farid, eu não tenho nenhuma bandagem e meus olhos são perfeitos. Farid é um mágico, embora ele diga que é apenas um fotógrafo. E a próxima vez que eu perder alguma coisa, voltarei para ele, porque com seus feitiços ele faz as coisas reaparecer, mesmo aquelas que, por própria conta, nunca reaparecerão.
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