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LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018
Excrecências
Charles Burck
Rio de Janeiro/RJ
Difícil viver um dia inteiro, limpo, livre das excrescências, das dormências dos
músculos, já os nervos, assumidamente tenso, chamam de louco todos os que
desejam ser feliz. Ainda assim eu não me embato com ele, vivo o que posso, já
que dormimos juntos por uma vida inteira.
Dou de beber às madrugadas para matar minhas sedes de aurora e de orvalhos,
Um líquido raro nos olhos de hoje, uma consternação da natureza, chateada com
tantas agressões.
Por dias inteiros os rios atravessam a cidade, veem de longe e carregam
reclames de pudores, os que impedem que certas partes do corpo sejam
expostas com naturalidade, sem constrangimento
à noite os corpos nus expõem suas essências, refletidas nas águas, apenas para
os olhos despudorados
O tempo de ver a luz chegam como mensagens em lanternas, em pirilampos
entregues por carteiros,
Tudo mudado, reza ainda a lenda que só ama verdadeiramente quem morre por
amor, eu, ainda que intenso, exalo sentimentos de comiseração, choro por mim
então, que nunca vi um amor verdadeiro, porque vivo.
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