Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 10ª edição | Page 62

LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018 Excrecências Charles Burck Rio de Janeiro/RJ Difícil viver um dia inteiro, limpo, livre das excrescências, das dormências dos músculos, já os nervos, assumidamente tenso, chamam de louco todos os que desejam ser feliz. Ainda assim eu não me embato com ele, vivo o que posso, já que dormimos juntos por uma vida inteira. Dou de beber às madrugadas para matar minhas sedes de aurora e de orvalhos, Um líquido raro nos olhos de hoje, uma consternação da natureza, chateada com tantas agressões. Por dias inteiros os rios atravessam a cidade, veem de longe e carregam reclames de pudores, os que impedem que certas partes do corpo sejam expostas com naturalidade, sem constrangimento à noite os corpos nus expõem suas essências, refletidas nas águas, apenas para os olhos despudorados O tempo de ver a luz chegam como mensagens em lanternas, em pirilampos entregues por carteiros, Tudo mudado, reza ainda a lenda que só ama verdadeiramente quem morre por amor, eu, ainda que intenso, exalo sentimentos de comiseração, choro por mim então, que nunca vi um amor verdadeiro, porque vivo. 57