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LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018
Doze
Angélica Neneve
Cornélio Procópio/PR
Doze horas, ela desliga o computador. É hora do almoço. Chegando ao
elevador, lembra-se do celular esquecido sobre a mesa. Decide não pegá-lo, está
com pressa. Camille aguarda-a ansiosa, a criança ainda mama no peito. Doze
quadras. Ela entra em uma bifurcação, caminho rotineiro, anda mais depressa.
Tem menos de uma hora para ir e voltar.
Ela avista alguém caminhando ao seu encontro, o arrepio que sobe pela
espinha a faz querer mudar de calçada, mas ela decide não fazê-lo. Tem medo de
parecer mal educada.
Um celular toca sem parar em um escritório qualquer no centro da cidade.
Quem está do outro lado já se preocupa com a demora, não é do feitio dela se
atrasar. Alguém atende, não é a voz dela, um colega de trabalho sem muita
informação a oferecer.
No noticiário da tarde, estatísticas são lançadas ao público indiferente. Doze
é o número de mulheres que são assassinadas por dia no Brasil. Ninguém ouve,
estão todos ocupados em sua própria monotonia.
Camille não dorme, não mamou como de costume. Ainda espera pela mãe
que não virá. O nome dela? Podemos chamá-la de Doze, se quiser conhecer as
outras onze, atente-se aos jornais.
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