Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 10ª edição | Page 148

LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018 Ultrarromantismo David Leite Jandira/SP Veio do mar, partindo ele em duas metades, em duas ondas para os lados que dariam títulos a quem se aventurasse surfá-las. Cada passo da abissal criatura escamosa fazia tremer o solo, desde a praia até o centro da cidade. Vidros trincavam, placas se soltavam dos suportes, concreto rachava, apenas com o tremor de cada passada. A população, em polvorosa ao ver o vulto se avolumar no horizonte, entra em histeria. Talvez fosse a terceira vez essa semana, mas a histeria parecia ser ainda a reação mais adequada. A massa popular corre na direção oposta ao monstro. Exceto um homem. Takaro Dadeskonto não temia aquele ser gargantual. Nem os que vieram antes dele. Ele era a única chance de salvação daquela cidade, e se orgulhava disso. O monstro alcança a cidade, e começa a rotina de destruição que era habitual a essas criaturas. Os prédios eram arrebentados como maquetes de papelão....realmente parecidos com maquetes de papelão, carros viravam chapas de ferro debaixo de suas patas. O ataque era furioso, sem objetivo, sem senso, sem hora para terminar, o que atrapalharia bastante, pois era dia útil da semana e isso forçava a concessão de uma folga e horas extras para compensar posteriormente. Takaro decide que já era hora de intervir, principalmente após a destruição de seu karaokê predileto pela criatura. Erguendo no ar uma espécie de escova de dentes elétrica, grita uma palavra intraduzível nesse idioma (algo a ver com tua mãe). O dispositivo brilha e vibra intensamente, e em um momento Takaro toma o tamanho de um edifício, um colant colorido e afetado e um capacete de motociclista. Prontamente vai em confronto ao monstro, derrubando prédios, destruindo carros, quase na mesma proporção que a criatura, mas como ele é o herói 143