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LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018
Sementes Invisíveis
Louise Bogéa Ribeiro
Belém/PA
O meu pai gostava mesmo de plantas. Ele as admirava. Eu as achava muito sem
graça. Não eram iguais aos animais, por exemplo, o meu cachorro Harry. Ele
curte ficar perto de mim o tempo todo. Quase tem um ataque cardíaco quando
me vê! Mas meu pai acordava cedinho para regar as suas plantas, e ficava muito
triste quando alguma morria. Difícil de entender, não é mesmo? Ele tentava me
explicar os seus segredos, mostrando-me os produtos certos para usar e como
utilizá-los. Uma verdadeira perda de tempo! Eu nunca entenderia. Lembro
quando ele abriu sua mão cheia de sementes, e percebi uma muito diferente das
outras.
– Não devemos julgar as sementes. Uma insignificante pode fazer florescer,
enquanto que uma brilhante pode se autodestruir. E o pior de tudo é que
precisamos esperar para ver o que acontece – ele disse, ao ler meus
pensamentos.
– Mas por que devemos, então, plantá-las? Não seria melhor comprar uma bem
bonita de plástico? – eu realmente queria tentar desestimulá-lo.
– Porque devemos acreditar nelas. Sempre. Ainda que nos desapontem um dia.
Nos dias que se seguiram, eu quis acompanhar o crescimento daquela semente
díspar. Para o meu desapontamento, ela ainda não tinha dado sinal de vida.
– Espere que ainda verás ela florescer – disse-me, com um sorriso nos lábios e
brilho nos olhos.
Cheguei até a regá-la bem cedinho como o meu pai fazia. Nada. Quis me inteirar
dos melhores produtos que fossem capazes de fazê-la viver. Apenas um brotinho
minúsculo apareceu no meio daquela terra, mas me deu imensa felicidade. Com
muito orgulho, chamei meu pai e o meu cachorro Harry para que todos
pudessem contemplá-lo!
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