Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 10ª edição | Page 136

LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018 Sementes Invisíveis Louise Bogéa Ribeiro Belém/PA O meu pai gostava mesmo de plantas. Ele as admirava. Eu as achava muito sem graça. Não eram iguais aos animais, por exemplo, o meu cachorro Harry. Ele curte ficar perto de mim o tempo todo. Quase tem um ataque cardíaco quando me vê! Mas meu pai acordava cedinho para regar as suas plantas, e ficava muito triste quando alguma morria. Difícil de entender, não é mesmo? Ele tentava me explicar os seus segredos, mostrando-me os produtos certos para usar e como utilizá-los. Uma verdadeira perda de tempo! Eu nunca entenderia. Lembro quando ele abriu sua mão cheia de sementes, e percebi uma muito diferente das outras. – Não devemos julgar as sementes. Uma insignificante pode fazer florescer, enquanto que uma brilhante pode se autodestruir. E o pior de tudo é que precisamos esperar para ver o que acontece – ele disse, ao ler meus pensamentos. – Mas por que devemos, então, plantá-las? Não seria melhor comprar uma bem bonita de plástico? – eu realmente queria tentar desestimulá-lo. – Porque devemos acreditar nelas. Sempre. Ainda que nos desapontem um dia. Nos dias que se seguiram, eu quis acompanhar o crescimento daquela semente díspar. Para o meu desapontamento, ela ainda não tinha dado sinal de vida. – Espere que ainda verás ela florescer – disse-me, com um sorriso nos lábios e brilho nos olhos. Cheguei até a regá-la bem cedinho como o meu pai fazia. Nada. Quis me inteirar dos melhores produtos que fossem capazes de fazê-la viver. Apenas um brotinho minúsculo apareceu no meio daquela terra, mas me deu imensa felicidade. Com muito orgulho, chamei meu pai e o meu cachorro Harry para que todos pudessem contemplá-lo! 131