Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 10ª edição | Page 107

LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018 cadê o Nirvana prometido? Mas aí é demasiado tarde, porque resta somente a ilusão da posse desse jardim pronto e acabado ou, por outra, a consciência da própria morte. O jardineiro aquiesceu. Moveu-se de seus tão nada humildes sonhos, balançou a cabeça, tirou o chapéu, paciente, e nada falou por um bom tempo; esquecia-se. Brisou mais forte. A noite chegou, tudo mergulhando em trevas junto com o mundo. Separaram-se assim devagar, de vagar em vagar, de véu em véu, sete vezes ao léu, e era para sempre. Lá se foi, sumindo no trecho, o jardineiro. Então a lua, que na tocaia, de abelhudinha que era, tudo escutava, passadas as nuvens milenares, apenas teve que fazer uma coisa: brilhar. E como brilhou ! A rosa, finalmente grávida desse luar, de saudade e de desvelo-de-mãe, enfim, a rosa completava-se em Rosa, nada mais. O jardineiro voltou para cultivar seu jardim com cuidado e afinco sem que nele se encontrasse a sua flor mais querida. E a Rosa? Ah, essa contava para a aranha-preta esse caso extraordinário sempre que ela vinha visitá-la aos anoiteceres. 102