Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 10ª edição | Page 97

LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018 enxergão antes da lareira. A mulher procurou uma panela ou um espeto, para cozinhar a carne sobre as brasas. Ajustando-se com o que encontraram no casebre, os três foram capazes de compensar uma refeição quente, molhada com a garrafa de vinho. O proprietário veio para oferecer até mesmo o seu pão com queijo, depois de ter quebrado em três partes iguais, com um gesto quase religioso, que por um momento recordou a divisão do pão místico, num lugar cheio de abandono. Só então, os sinos da igreja tocaram a meia-noite. Era Natal, para fora. Natal parecia ter tocado mesmo aquela casa. Os três estranhos tinham vindo até reunir o pouco que tinham, a moradia e a comida. Agora estavam recolhidos, em seus trapos, todos os três no velho colchão. As brasas da lareira mantinham um calor confortável e o bom vinho estimulou o sono, a paz. A neve começou a cair, no início tímida, então cada vez mais densa. A campanha brilhou branca, no meio da noite sem lua. As pegadas desapareceram, os ruídos enfraqueciam-se. Era como se o mundo queria cobrir o passado das coisas e dos homens, para acordar no dia seguinte em um novo amanhecer. Um amanhecer frio, que teria surpreendido três pessoas, até então desconhecidas, abraçadas juntas, com sua barriga por uma vez cheia. www.liutprand.it 92