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LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018
Bombalagem
Rafael Teixeira de Souza
Vitória /ES
Vou me apresentar, digo eu para o casal sentado no banco desta praça. Meu
nome é Bombalagem, mas pode me chamar simplesmente de lixo porque
ninguém me valoriza mesmo, nem ouve meus conselhos... Caso contrário, eu
pagaria os salários atrasados e faria uma reforma tributária de cima para baixo.
Não se preocupe! Não vou te denunciar para a polícia federal, mas não diga que
eu não comentei sobre as rosas. Alguém não me jogou na lixeira, ufa! Que sorte
a minha... Mas, também, não vamos comentar sobre os lixos depositados nos
politicamente gabinetes grotescos. Por fim, respiro fundo, para me acalmar um
pouco, enquanto a vida segue em seu malabarismo macabro.
A mi me gusta de química, principalmente quando se estuda o processo de
decomposição das substâncias. Acho que Humanas já não está na moda, mas
não rasguem os livros de Filosofia. Não aceite, proteste! Ser ou não ser um lixo
descartável nesta cidade decomposta? Eu já tenho certeza de quem eu sou...
Mas o ser humano continua se perguntando, sem chegar a uma resposta que não
seja, no mínimo, soberba.
E,
desculpa,
voltemos
ao início da história...
A danada está com os braços entrelaçados ao pescoço do cândido; de paixão,
parece sufocá-lo. Só que não. O rapaz está excitado, devido às pernas dela sob
as suas. Ei, você, feche os olhos! Não somos obrigados a ver tamanha putaria em
público! Ser ou não ser um lixo descartável por tantos pecados cometidos? Ser
humano, eis a questão.
Minha presença chama a atenção do casal, Roberto e Lúcia, sentados no
mesmo banco da mesma praça cujas flores são todas iguais em todas as
estações. Pobre do mendigo que decorou com flores de plástico onde só havia
lixo. Tudo está depressivo... e ela reclama dele, por não ser romântico, por
nunca ter recebido nenhum “creme de la créme” de presente. A paisagem ignora
tal cenário de amor. O pior é que ele não sabe que eu estou aqui, caída no chão,
por culpa dela. Ser ou não ser descartável neste lixo de mundo?
O amor, hoje em dia, está cada vez mais contraditório tal como o chocolate
meio amargo. O barroco chegou tarde ao Brasil, não sou tão ultrapassada assim,
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