Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre - 10ª edição | Page 130

LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018 - Pouco se me dá que a azêmola claudique, o que me apraz é acicatá-la! Todos o olharam com perplexidade, o grupo ficou inerme, sem saber como agir. Mudos, aguardavam explicações sobre o que ouviram, mas o matuto comerciante sabia que os encurralara e que estavam envergonhados por não compreender. Manteve-se à espera que alguém tomasse a iniciativa e o indagasse. Até que finalmente aconteceu. - Não entendemos o que disse. Pode nos explicar com outras palavras? O doce sabor da vingança ficou visível no peito inflado e no sorriso sarcástico estampado nos lábios. E a resposta foi dada com ar professoral e tom dulçoroso. - Vocês não entenderam porque usei o português na sua forma escorreita, realmente difícil para que pudessem assimilar. Na verdade, é um ditado popular bem conhecido; eu lhes disse “não me importa se a mula manca, o que eu quero é rosetá-la”. - Claudique é do verbo claudicar, que significa mancar. Azêmola é um dos substantivos para mula e acicate é um tipo de espora, também chamada roseta. O autor é simplesmente Rui Barbosa, o Águia de Haia, que certamente conhecem. Vencidos e humilhados, os gozadores entenderam a magistral lição recebida. Abraçaram o mestre caipira, desculpando-se pelas provocações insensatas, e retomaram a rota planejada com uma história inesquecível para contar. Enquanto soavam as buzinas e faziam acenos como sinal de despedida, o esperto comerciante comemorava a excelente receita auferida, já torcendo pela chegada de novos incautos que tentassem se divertir à custa das tradições e do povo mineiro. 125