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LiteraLivre Vl. 2 - nº 10 – Jul/Ago. de 2018
- Pouco se me dá que a azêmola claudique, o que me apraz é acicatá-la!
Todos o olharam com perplexidade, o grupo ficou inerme, sem saber como
agir. Mudos, aguardavam explicações sobre o que ouviram, mas o matuto
comerciante sabia que os encurralara e que estavam envergonhados por não
compreender. Manteve-se à espera que alguém tomasse a iniciativa e o
indagasse. Até que finalmente aconteceu.
- Não entendemos o que disse. Pode nos explicar com outras palavras?
O doce sabor da vingança ficou visível no peito inflado e no sorriso
sarcástico estampado nos lábios. E a resposta foi dada com ar professoral e tom
dulçoroso.
- Vocês não entenderam porque usei o português na sua forma escorreita,
realmente difícil para que pudessem assimilar. Na verdade, é um ditado popular
bem conhecido; eu lhes disse “não me importa se a mula manca, o que eu quero
é rosetá-la”.
- Claudique é do verbo claudicar, que significa mancar. Azêmola é um dos
substantivos para mula e acicate é um tipo de espora, também chamada roseta.
O autor é simplesmente Rui Barbosa, o Águia de Haia, que certamente
conhecem.
Vencidos e humilhados, os gozadores entenderam a magistral lição
recebida. Abraçaram o mestre caipira, desculpando-se pelas provocações
insensatas, e retomaram a rota planejada com uma história inesquecível para
contar. Enquanto soavam as buzinas e faziam acenos como sinal de despedida, o
esperto comerciante comemorava a excelente receita auferida, já torcendo pela
chegada de novos incautos que tentassem se divertir à custa das tradições e do
povo mineiro.
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