LiteraLivre nº 3
Pânico de Aeroporto
Sonia Regina Rocha Rodrigues
Santos/SP
Entendo, sim, ah, como entendo!
Você passou pela pior experiência de sua vida e está traumatizado;
teve um colapso nervoso, quase perdeu o avião, passou meses à base
de tranquilizante e o psiquiatra desistiu de tentar tratar você.
Você agora quer cancelar as férias, desistir da viagem planejada pela
família, seus filhos o odeiam e a mulher quer o divórcio, A situação pede
medidas desesperadas, eu sei. E creio ter a solução.
Eu, como você, vivi minha primeira experiência de horror na
maturidade, na frente de filhos na pior idade, sentindo a pressão interna
de ser o modelo, de dar exemplo, corresponder à imagem de pai herói,
essas imposições mentais que nós, simples mortais orgulhosos,
sofremos antes de conhecer o tamanho do monstro.
Em Guarulhos o estresse de aeroporto foi administrável. Vai-se ao
banheiro com um olho nas crianças e outro nas malas. Em minha
primeira viagem, as danadinhas não tinham quatro rodas, como as de
hoje. Meu batismo de fogo foi Toronto, onde eu fiz conexão e precisei
fazer o translado das malas.
Confiante em meu francês, logo descobri que fora de Quebec quem
se exprime em francês, no Canadá, são somente as placas. Ante o meu
ar desesperado, um funcionário solícito chamou por outro, que "falava a
minha língua": espanhol!
Enveredei por corredores sinuosos, desci, subi, enganei-me, refiz o
percurso suando, embarquei em um pau-de-arara versão aeroporto, um
ônibus que transportava gente em pé e de alguma forma as malas e as
crianças tinham de ser contidas - como? Em meio a olhares furiosos e
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