Revista LiteraLivre 3ª edição | Page 96

LiteraLivre nº 3 Palavras no Silêncio Letícia A. Ucha Porto Alegre/RS Jerusa era uma moça pobre que adorava observar tudo à sua volta. O movimento das pessoas, suas expressões, o céu, os pássaros voando, o colorido das flores, tudo a encantava, mas com uma pontinha de tristeza... Não ouvia absolutamente nada. Às vezes, colocava as mãos na caixa de som para sentir a vibração do som e tentava dançar, porém não conseguia captar o ritmo. Comunicava-se pela linguagem das Libras, pois aprendera com a patroa de sua mãe que era professora de crianças especiais. Sabia ler e escrever muitas palavras, mas com dificuldade. Uma de suas maiores distrações era ler revistas de celebridades, sonhava com os locais, roupas das atrizes. Foi quando teve uma ideia: leu um anúncio sobre um curso de corte e costura via correspondência e resolveu fazer. Se desse certo, poderia com o dinheiro da venda dos vestidos comprar o tão sonhado aparelho auditivo. Porém, até concluir o curso, conseguir clientela, demoraria... e Jerusa não aguentava mais ver a vida como um filme de cinema mudo. Juntou uns trocados, comprou um bilhete na rifa da igreja. Com sorte poderia receber o prêmio em dinheiro. Chegou o grande dia do sorteio! Jerusa, sentiu um frio na barriga quando viu as pessoas se aproximarem do palco. A moça responsável pelo certame, tirou do pote um papel fechado e mostrou o número! Infelizmente, não era o de Jerusa. Triste, saiu apressadamente. Sentiu alguém puxá-la pelo braço. Era sua amiga Vanessa que não era deficiente, mas também se comunicava em libras por causa de seu avô e estava com um jornal na mão. Era um anúncio da Faculdade de Fonoaudiologia. Seriam feitos estudos com pessoas sem audição e seriam 90