LiteraLivre nº 3
Palavras no Silêncio
Letícia A. Ucha
Porto Alegre/RS
Jerusa era uma moça pobre que adorava observar tudo à sua volta. O
movimento das pessoas, suas expressões, o céu, os pássaros voando, o
colorido das flores, tudo a encantava, mas com uma pontinha de tristeza...
Não ouvia absolutamente nada. Às vezes, colocava as mãos na caixa de som
para sentir a vibração do som e tentava dançar, porém não conseguia captar o
ritmo.
Comunicava-se pela linguagem das Libras, pois aprendera com a patroa de
sua mãe que era professora de crianças especiais. Sabia ler e escrever muitas
palavras, mas com dificuldade.
Uma de suas maiores distrações era ler revistas de celebridades, sonhava com
os locais, roupas das atrizes. Foi quando teve uma ideia: leu um anúncio sobre
um curso de corte e costura via correspondência e resolveu fazer. Se desse
certo, poderia com o dinheiro da venda dos vestidos comprar o tão sonhado
aparelho auditivo. Porém, até concluir o curso, conseguir clientela,
demoraria... e Jerusa não aguentava mais ver a vida como um filme de
cinema mudo.
Juntou uns trocados, comprou um bilhete na rifa da igreja. Com sorte poderia
receber o prêmio em dinheiro. Chegou o grande dia do sorteio! Jerusa, sentiu
um frio na barriga quando viu as pessoas se aproximarem do palco. A moça
responsável pelo certame, tirou do pote um papel fechado e mostrou o
número! Infelizmente, não era o de Jerusa. Triste, saiu apressadamente.
Sentiu alguém puxá-la pelo braço. Era sua amiga Vanessa que não era
deficiente, mas também se comunicava em libras por causa de seu avô e
estava com um jornal na mão. Era um anúncio da Faculdade de
Fonoaudiologia. Seriam feitos estudos com pessoas sem audição e seriam
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