Revista LiteraLivre 3ª edição | Page 94

LiteraLivre n º 3
Parou , respirou ofegante . Ninguém . Alta madrugada . Voltou para casa . Perplexo . Fechou o portão . Dormiu cansado . E sem sonhar .
No dia seguinte , quando saiu para trabalhar , e uns poucos carros passavam para lá e para cá , viu que , no meio deles , uma borboleta girava no vento . Parou e ficou na calçada a olhá-la . O que ela fazia ? Viu um cachorro passar . Imaginou o corpo dele como algo quente e alerta . Voltou o olhar novamente para a borboleta , que já não estava . Suspirou , com medo , ao restar apenas o próprio corpo para a sua atenção . Estremeceu ao se imaginar quebrando o esqueleto do menino . Um arrepio .
Que mundo era aquele que podia se camuflar ou se revelar em um segundo de distração ? O que criaturas aladas estariam aguardando , assim , tão perto e aqui ? Distraiu-se . Seus olhos estavam fisgados por dois mundos simultâneos . Que isso se espalhasse para os braços e , depois , para as mãos , o frio , de algum jeito , o alcançaria ; e ele precisaria sempre de ter asas , sentenciado por um invisível quente , lutando para ser quente . Sentia . Era o que agora pulsava em sua mente , no escritório , em frente à tela bucólica do computador . E do mesmo modo que nada dizia , não sabia o que fazer . Não sabia agora e sentia bem forte que nunca saberia .
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