LiteraLivre nº 3
Entrei de Gaiato Num Navio
Cristina Bresser de Campos
Curitiba-PR
Professor de ginástica, resolvi faturar uma grana no verão dando aulas
num navio. Fazia três dias e eu já estava muito arrependido. Sabe
aquela história de drinks à beira da piscina, mulheres lindas e gorjeta
em dólares? Esquece. Entrei de gaiato num navio, entrei pelo cano...
Eu dava aulas o dia todo para um bando de gordas classe média que
pagaram as passagens em 12 vezes sem juros. À noite era obrigado a
ficar duas horas dançando com passageiras na boate. Nunca imaginei
tantas mal-amadas no mundo. O cheiro dos perfumes adocicados nunca
mais iria sair do meu nariz.
Pensando nisso, entrei no elevador. Vazio. No canto avistei uma caixa de
madeira escura com uma placa de bronze. Cheguei perto. Caralho! Dei
um pulo para trás. Nisso entrou um garçom filipino. Apontando para a
caixa, pedi a ele para ler. A hora que se tocou do significado, começou a
chorar e gaguejar na língua dele.
Portas escancaradas, chega um segurança italiano berrando. Era enorme
e ainda por cima, fedido. MUITO fedido num terno de poliéster. ¬. Onde
já se viu segurar o elevador? Eu e o Kim, o filipino, nos afastamos. Ele
entrou e deu de cara com o objeto. Aproximou-se: ¬ Ma che cazzo....?
Madonna! Caiu de joelhos e se benzeu! Logo reassumiu seu papel e nos
ordenou retirar aquilo dali! Nisso, já havia uma multidão à nossa volta.
Por sorte estávamos nos deques inferiores, apenas para o staff. Um
marinheiro argentino veio ajudar. Quando fomos erguer a caixa, ele leu
41