Revista LiteraLivre 2ª Edição | Page 98

LiteraLivre nº 2 grande. Ela não é furta cor como as outras. Certa vez disseram que é um planeta. Vênus. E a outra, um pontinho tão vermelhinho e distante, tão triste, disseram que é Marte. Você as ama porque disseram que as estrelas estão todas mortas e os planetas estão vivos. Mas elas não estão lá. Não hoje. Mas é outubro! As vozes do casal ficam mais altas e o metrônomo mais compassado e a manta escura que a bruxa tece, desce pelos joelhos magros dela. Tão grande aquela manta. Para que ela tece algo tão grande? Ela sorri e você reza. Tão pequeno, você. Sem nome e sem voz com a cabeça sobre os joelhos. Você chora. O cosmos explode em lágrimas e soluços. Você sente seu interior caindo e afogando-se numa nebulosa distante. A linha de sua vida parece emaranhar-se por completo e voltar ao princípio de tudo. Depois, veio a paz. O universo está escuro apenas com uma neblina branca, poeirenta e leitosa. Seu universo interior está escuro e pacífico. O metrônomo cessa. Você levanta a cabeça e a bruxa está de pé estendendo a manta negra cheia de pontinhos brilhantes no ar. Ondulante e leve ela toma forma sobre sua cabeça e o céu é monocromático, ou quase. Agora, restam apenas duas flores murchas no lugar onde estava o jovem casal. Você olha o céu novamente, e lá estão Vênus e Marte, brilhantes como os olhos da bruxa que sorri para você e recolhe-se em sua casa. Resta, por fim, o gato com as duas estrelas que desceram em seus olhos. 92