LiteraLivre nº 2
grande. Ela não é furta cor como as outras. Certa vez disseram que é um
planeta. Vênus. E a outra, um pontinho tão vermelhinho e distante, tão
triste, disseram que é Marte. Você as ama porque disseram que as
estrelas estão todas mortas e os planetas estão vivos. Mas elas não
estão lá. Não hoje. Mas é outubro! As vozes do casal ficam mais altas e o
metrônomo mais compassado e a manta escura que a bruxa tece, desce
pelos joelhos magros dela. Tão grande aquela manta. Para que ela tece
algo tão grande? Ela sorri e você reza. Tão pequeno, você. Sem nome e
sem voz com a cabeça sobre os joelhos. Você chora. O cosmos explode
em lágrimas e soluços. Você sente seu interior caindo e afogando-se
numa nebulosa distante. A linha de sua vida parece emaranhar-se por
completo e voltar ao princípio de tudo. Depois, veio a paz. O universo
está escuro apenas com uma neblina branca, poeirenta e leitosa. Seu
universo interior está escuro e pacífico. O metrônomo cessa. Você
levanta a cabeça e a bruxa está de pé estendendo a manta negra cheia
de pontinhos brilhantes no ar. Ondulante e leve ela toma forma sobre
sua cabeça e o céu é monocromático, ou quase. Agora, restam apenas
duas flores murchas no lugar onde estava o jovem casal. Você olha o céu
novamente, e lá estão Vênus e Marte, brilhantes como os olhos da bruxa
que sorri para você e recolhe-se em sua casa. Resta, por fim, o gato com
as duas estrelas que desceram em seus olhos.
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