LiteraLivre nº 2
SEM SINAL
Maria Rosa de Miranda Coutinho
Joinville - SC
A mulher rude e de poucas palavras havia enfim decidido fazer
parte do mundo tecnológico. Esquecida pelo tempo, pois apenas trazia
alguns fios brancos de cabelo e conservava uma pele ainda jovial,
esqueceu-se ela também de se atualizar no novo século que chegou
muito depois do seu nascimento, de sua vivência de infância e de um
difícil amadurecimento.
Maria foi o nome que recebeu e nada mais a ele foi acrescentado.
Estava escrito somente em seus documentos e talvez um dia seja
inserido em sua lápide.
Na velha casa, separou suas economias. Contou e recontou cada
nota de dinheiro que guardava no fundo da gaveta de sua cômoda.
Herdou de sua família a cansativa atividade de feirante e embora
reservada, sabia oferecer as muitas hortaliças que cultivava em seu
quintal com o valor apropriado. Não conseguia, contudo, imaginar
quando abandonaria tal lida.
Maria caminhou algum tempo pelo centro da cidade até deparar
com a loja pretendida. Entrou cabisbaixa sem dirigir-se a ninguém. Tinha
receio dos olhares e das perguntas. Sua linguagem revelava seu
desconhecimento à modernidade, o que a colocava em um universo à
parte.
Os estranhos objetos estavam lá, expostos nas vitrines tão alheios
a tudo quanto aquela mulher. Sua solidão, apressada pela viuvez
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