Revista LiteraLivre 2ª Edição | Page 94

LiteraLivre nº 2 SEM SINAL Maria Rosa de Miranda Coutinho Joinville - SC A mulher rude e de poucas palavras havia enfim decidido fazer parte do mundo tecnológico. Esquecida pelo tempo, pois apenas trazia alguns fios brancos de cabelo e conservava uma pele ainda jovial, esqueceu-se ela também de se atualizar no novo século que chegou muito depois do seu nascimento, de sua vivência de infância e de um difícil amadurecimento. Maria foi o nome que recebeu e nada mais a ele foi acrescentado. Estava escrito somente em seus documentos e talvez um dia seja inserido em sua lápide. Na velha casa, separou suas economias. Contou e recontou cada nota de dinheiro que guardava no fundo da gaveta de sua cômoda. Herdou de sua família a cansativa atividade de feirante e embora reservada, sabia oferecer as muitas hortaliças que cultivava em seu quintal com o valor apropriado. Não conseguia, contudo, imaginar quando abandonaria tal lida. Maria caminhou algum tempo pelo centro da cidade até deparar com a loja pretendida. Entrou cabisbaixa sem dirigir-se a ninguém. Tinha receio dos olhares e das perguntas. Sua linguagem revelava seu desconhecimento à modernidade, o que a colocava em um universo à parte. Os estranhos objetos estavam lá, expostos nas vitrines tão alheios a tudo quanto aquela mulher. Sua solidão, apressada pela viuvez 88