Revista LiteraLivre 2ª Edição | Page 59

LiteraLivre nº 2 MAMPITUBA Roselaine Hahn, Cachoeirinha/RS – Mãe, onde fica Mampituba? Ela olhou pela janela. Os postes na estrada viajavam apressados. Estavam a pelo menos 200 quilômetros de distância do rio que divide os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, subindo em direção a Serra Gaúcha. Pensava de onde diachos o guri ouvira falar do rio Mampituba, quando a atenção desviou-se para a gritaria no fundo do ônibus. O Zé saiu do banheiro, escancarou a porta e jogou no corredor o rolo de papel, que escorreu majestosamente como um tapete vermelho, a abrir alas para a nobreza de cento e dez quilos em desfile imponente de braços abertos, enquanto os súditos rebelados seguiam atrás sob protestos e vaias, amontoando-se na frente do busão para fugir do bodum de carniça. − Porco, porco! – gritavam. − Não é porco, é sucrilho de colono – respondeu o glutão em gaitadas a respeito do torresmo ingerido no café da manhã. Os passeios da turma era um frescor para aliviar a rotina massacrante da firma, mesmo que o seu papel, tal qual o das demais esposas, estivesse limitado ao de coadjuvante do marido, que enchia a cara e ria por bobagens. Muitas vezes não entendia a graça, mas cumpria bem a função de claque. Sentada à direita na terceira fileira de poltronas, escutava de butuca a grandiloquência do marido a converter o motorista com a 53