LiteraLivre nº 2
Com Outros Olhos
Lis Dianna
Cabo Frio/RJ
Não sei de verdade o que as construções antigas possuem que me
encantam profundamente, fico imaginando quantas histórias há por trás
de cada parede, cada objeto guardado. Uma casinha da década passada,
uma pintura clássica, uma época e mil sentimentos.
Casas são livros, cidades são bibliotecas.
Andando por essas ruas conheci “um lugarzinho histórico e
fascinante” lugar esse onde morou o famoso poeta Casimiro de Abreu, o
qual deixou não apenas seu legado literário como também sua história
registrada pelos muros de concreto. Era uma tarde de sol e o rio logo em
frente á praça me parecendo uma linda fotografia antiga. Fui andando de
bicicleta pelas ruas de pedras com as casinhas ainda fieis á sua
arquitetura da época, então imaginei quantos rostos passaram por ali,
pensei que talvez o próprio poeta tivesse o mesmo costume que o meu,
ou quem sabe o que ele gostava de fazer naquela cidade. O que será que
havia dentro daquelas casas?
Foram transformadas em bibliotecas, museus, restaurantes, porém
dentro de cada cômodo eu sei que há o cheiro envelhecido do assoalho,
a pintura descascada, tudo ainda preservado apesar do tempo. Senti-me
privilegiada por morar ali tão perto e logo tão insensata por ter estado ali
tantas vezes e nunca ter visto aquele lugar com a mesma intensidade
com a qual eu agora eu via, parecia que aquelas ruas e aquelas
construções não eram as mesmas.
A minha paixão, a minha curiosidade naquele momento seria mais
imediata ou mais sensível do que todos os outros dias? Creio eu que
não, não é preciso tanta sensibilidade para isso. Se outras vezes eu
apenas via, naquele momento eu senti.
Senti aquelas casas, aquelas ruas, aquela praça, aquele rio e senti as
histórias, a época, senti então o poeta. E quantas vezes vemos, mas não
enxergamos. A pressa não nos permite admirar observar, a indiferença
que nos torna distantes, e logo deixamos de descobrir tantas histórias e
deixamos escapar tanta beleza bem diante dos nossos olhos.
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