Revista LiteraLivre 2ª Edição | Page 82

LiteraLivre nº 2 Perto Vítor Leite Porto, Portugal Perto não é estar próximo nem junto. Perto é não saber onde acaba um nem o outro, é um corpo com quatro pernas e outros tantos braços, e, uma tremenda vontade de entrar na pele, de rasgar o peito e entrar, qual barco a rasgar ondas na maior tempestade. e tu onde estás? Sim, tu que não és! Transparente e sem cheiro, és longe ou uma hora. Morres no desejo de ser perto. Morro também. Serei pássaro avião, agarrado a um desejo de ter, nem importa o quê. Ser mais que uma memória de um desejo e tudo acaba com o mergulho do sol. Como um eco tudo se repete e repete e epete pete pet te te te. Perto. Perto de coisa nenhuma. Rasgo a pele como as memórias, mergulho no sangue quente da vida. Cuidado, digo-me e mergulho novamente. Nado neste mar opaco sem ondas, longe de tudo. Navego como qualquer peixe na corrente, aguardando um maremoto. Sozinho e longe como uma cama vazia. Sou todo mãos, bem longe do meu corpo e coladas no teu, debaixo deste líquido ou pasta, que não se descola. Somos perto mesmo de olhos fechados, sentimos a saliva do outro na pele, mesmo sem olhos estás em mim. Perto. https://silenciodesafinado.wordpress.com 76