Revista LiteraLivre 19ª edição | Page 61

LiteraLivre Vl. 4 - nº 19 – Jan./Fev. de 2020 Daia Schmidt Estrela/RS À beira da própria vida Quanto tempo você esteve sentada à beira da própria vida? Eu sei como você se sentiu e como você se sente. Quantos rótulos você já recebeu? Filha do beltrano, mãe do Joãozinho ou da Mariazinha, esposa do ciclano, ou pior, ex do fulano. Quantas vezes seu cartão de visitas tem sido o cargo que você ocupa? Às vezes um cargo que você nem gosta de executar. Ao longo da vida já te impuseram tantas identidades. Mas qual é a sua? De verdade, qual é a sua identidade? Quando perguntam quem você é, e qual o sentido da vida para você, qual é a sua resposta? Num momento da minha vida me fiz essas perguntas, e comecei a olhar quem eu era de fora. Eu queria me conhecer. Passei muito tempo sentada à beira da minha existência para começar a agir. No princípio eu sentia tanto medo, afinal o que diziam é que mulher não conseguia muita coisa sozinha. Que o caminho seria muito mais difícil e que poucos iriam ajudar. Você já ouviu falar que quando você está na chuva é impossível você não se molhar? Pois é! Me molhei, e foi uma das melhores coisas que fiz. Muito além de carregar um rótulo, eu queria carregar quem eu verdadeiramente decidi que queria ser. Sem algo ou alguém para que me fizesse sombra. E sabe por que? Porque eu descobri que os grandes relacionamentos da nossa vida são construídos sem sombras, sem bengalas e sem rótulos. Você é o que é, o outro é o que é. E vocês se completam. Nesse estágio não existe medo. Existe apenas a vontade em fazer dar certo. Existe aquela vontade louca e utópica de correr na chuva como nos tempos de criança, em rir até a barriga doer, em arriscar sem medo. E eu sei que tem [58]