LiteraLivre Vl. 4 - nº 19 – Jan./Fev. de 2020
Daia Schmidt
Estrela/RS
À beira da própria vida
Quanto tempo você esteve sentada à beira da própria vida?
Eu sei como você se sentiu e como você se sente. Quantos rótulos você já
recebeu? Filha do beltrano, mãe do Joãozinho ou da Mariazinha, esposa do
ciclano, ou pior, ex do fulano. Quantas vezes seu cartão de visitas tem sido o
cargo que você ocupa?
Às vezes um cargo que você nem gosta de executar. Ao longo da vida já te
impuseram tantas identidades. Mas qual é a sua? De verdade, qual é a sua
identidade? Quando perguntam quem você é, e qual o sentido da vida para você,
qual é a sua resposta?
Num momento da minha vida me fiz essas perguntas, e comecei a olhar
quem eu era de fora. Eu queria me conhecer. Passei muito tempo sentada à beira
da minha existência para começar a agir. No princípio eu sentia tanto medo,
afinal o que diziam é que mulher não conseguia muita coisa sozinha. Que o
caminho seria muito mais difícil e que poucos iriam ajudar.
Você já ouviu falar que quando você está na chuva é impossível você não
se molhar? Pois é! Me molhei, e foi uma das melhores coisas que fiz. Muito além
de carregar um rótulo, eu queria carregar quem eu verdadeiramente decidi que
queria ser. Sem algo ou alguém para que me fizesse sombra. E sabe por que?
Porque eu descobri que os grandes relacionamentos da nossa vida são
construídos sem sombras, sem bengalas e sem rótulos. Você é o que é, o outro é
o que é. E vocês se completam. Nesse estágio não existe medo. Existe apenas a
vontade em fazer dar certo.
Existe aquela vontade louca e utópica de correr na chuva como nos tempos
de criança, em rir até a barriga doer, em arriscar sem medo. E eu sei que tem
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