Revista LiteraLivre 19ª edição | Page 34

LiteraLivre Vl. 4 - nº 19 – Jan./Fev. de 2020 um elevado índice de significação sem se ater ao fato de que o signo é a forma de refração da realidade, mas a realidade não é tudo que existe. quem, portanto, escreve um poema não altera somente o núcleo ontológico de uma página, mas violenta a própria constituição do mundo, pois a poesia é um procedimento de verdade, à distância da verdade, i. e., a poesia não é de confiança. se acaso um dia a lírica conseguir retomar seu caráter negativo capaz de circular a incapacidade de circulação simbólica teremos uma significação real e transitória, a verdade esgotada em seu ser-aí [dasein], afirmando todo o poder de sua irrelevância. não sabemos o que virá (desde os românticos). mas o mundo surgiu como um risco, não como uma solução. a arte autoriza essa expectação eu desautorizo a arte por ser ela a forma mais triste de esperar. na minha pequena gramática, este sim nunca é resposta e canções de ninar brotam em elegias. [31]