LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
Gabriela Furtado
Brasília/DF
Conselhos para um menino fujão
Ei menino, senta aqui. Mesmo com a aparente distância entre nossos
mundos, abre bem os ouvidos, presenteia-me com esse olhar terno e escuta bem
meus conselhos de mulher que parece ter conhecido cada detalhe do universo.
Quero que você saiba que mesmo muito diferentes, somos um tantinho igual
- eu tenho um pouco dessa tua meninice: ainda me falta um bocado para crescer.
Também preciso te contar que já percorri algumas estradas a mais que você e
que elas não são tão doces quanto a nossa sintonia, mas que a gente vai
colocando poesia nelas: independente do que te disser o resto do planeta, não
esquece - quem dá o tom suave da vida é a gente.
Por vezes você vai tentar fugir dos problemas, assim como foge de mim e
das minhas impossibilidades. Mas olha, por mais que seja difícil encarar, as coisas
não são assim. É necessário enfrentar cada monstro que aparece no nosso meio,
principalmente aqueles que tentam fazer latifúndio do nosso coração. Eu sei, eu
sei. Dói. Parece que destrói cada pedacinho que nos compõe. Mas te garanto, se
a gente ignora totalmente, menino, se a gente finge que não vê de jeito nenhum,
tudo isso domina a gente de uma forma bem pior.
Também não deixa faltar poesia na tua vida. Você pode até achar isso bem
estranho eu falar tanto assim nela, coisa de gente grande. Mas é não. Isso,
menino, é pouco do que ainda resta de bonito na minha pequenez. Além do que,
é essencial. Tudo já é tão feio... Se a gente não rima esses versos
desengonçados que vai arrumando por aí, sei nem como se leva a vida pra
frente.
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