LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
Edna Queiroz
Rio de Janeiro/RJ
Travessia
Entre letras, pingos e pontos me perdi, quando da incessante e quase compulsiva
caça de palavras que expressasse o meu dizer.
Muitas encontrei pelo caminho – presas fáceis! Outras me desafiavam, ocultando-
se hermeticamente em seus esconderijos semânticos, camufladas entre signos e
contextos, mas que seriam a peça faltante do quebra-cabeça do contar.
Tentei blefar, sabotar grafias, premeditadamente transgredir a lei. Que me
perdoem os vigilantes gramáticos!
Garimpei por rochas. Com a paciência de ourives, poli palavras e expressões, na
ânsia de soltar no mundo o meu eu.
Passei por labirintos. Tal Ícaro, peguei das asas da imaginação e galguei as
alturas. Já sem o risco da queda ou da sedução de deixar-me levar pela surpresa
da descoberta e mudar de direção. De cima, quem sabe, poderia avistar a peça
perdida na densa floresta encantada.
Recuei, peguei fatos de vida, dispersos e distantes, já desbotados pelo tempo.
Colori. Dei “flashback” nas músicas que marcaram a memória, tal isca nas mãos
do pescador.
Na aventura do me revelar, continuará sempre à frente o desafio da travessia do
infinito deserto do Papel Em Branco.
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