Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 74

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 três e pularia. Mas o destino atrapalhou seus planos quando o elevador da empresa parou entre o terceiro e o segundo andar. Lá dentro, Marina e Pedro - o estagiário - pediam por socorro. Do lado de fora, alguém gritou que demoraria pelo menos 45 minutos até que o rapaz da manutenção voltasse e resolvesse o problema. Não havia o que fazer senão sentar no chão e esperar. Marina estava inquieta e Pedro tentava tranquilizá-la. Começaram a falar sobre signos, as séries que estavam assistindo, o quanto estavam saturados e insatisfeitos com as redes sociais e acabaram descobrindo muitas coisas em comum. Quando os dois conseguiram ser libertados daquela máquina claustrofóbica de subir e descer, estavam morrendo de fome e Pedro convidou Marina para jantar. Embora ela tivesse hesitado no começo, uma hora a mais não faria diferença. Afinal, o papo de Pedro era tão bacana que suicidar-se poderia esperar mais um pouquinho. Marina foi ao banheiro, retocou o batom e foi com Pedro em um restaurante alternativo de comida vegetariana. Saíram de lá depois da meia-noite com a promessa de repetir a dose qualquer dia desses. Marina chegou em casa e despencou na cama. Estava cansada demais para pensar em qualquer coisa que não fosse tomar um banho e dormir. E assim o fez. Dormiu e sonhou com a noite agradável que teve ao lado de Pedro. Acordou no dia seguinte com um convite para jogar boliche. Marina confirmou e começou a pensar em que roupa usaria. Foi ao salão de beleza, fez as unhas e o cabelo. Às 20hs em ponto já estava pronta esperando por Pedro. Ele estava atrasado. Marina começou a se questionar se ele iria mesmo buscá-la ou se, mais uma vez, assim como em seus três últimos relacionamentos, seria enganada e abandonada por alguém. Eram 15 minutos de atraso e ela começou a preparar o Plano B: o suicídio. Foi à cozinha e ligou o gás. Abriu todas as bocas do fogão e quando o cheiro de gás estava começando a impregnar todo o seu apartamento, recebeu uma mensagem de Pedro avisando que estava na portaria a sua espera. Fechou todas as bocas do fogão, desligou o gás e desceu. Teve a melhor noite da sua vida: bebeu, jogou boliche, dançou, comeu novamente no restaurante de comida vegetariana e beijou Pedro apaixonadamente. Um beijo diferente. Sincero. Mais intenso que qualquer outro beijo que eles já haviam dado em suas vidas. Quando chegou em casa, às três e meia da manhã, Marina tirou o salto, colocou a roupa na máquina de lavar, tomou um banho demorado, passou uma camada de creme hidratante pelo corpo, deitou em sua cama e refletiu: não vale a pena se matar e perder a oportunidade de beijar a boca de Pedro outra vez. E lembrando o beijo, Marina adormeceu. Ao amanhecer, assim que abriu os olhos, antes mesmo de pensar em qualquer outra coisa, fez uma promessa a si mesma: daria mais uma chance à vida, assim como a vida lhe deu mais uma chance colocando Pedro em seu caminho. [71]