LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
atrás, inesquecíveis churrascos comidos sem pressa na mansidão em que a vida
corria naquela casa.
Depois, tia Alice foi para a outra casa, que era como um palácio coberto
pelas tapeçarias que ela mesmo bordara. Tio Fridolin já não estava mais, o
Nelson se fora para Florianópolis e a grande companhia dela era aquele cachorro
gordinho do qual já não lembro o nome. E os antúrios, e as outras flores do
jardim, e a vizinha Elvira. Ir visita-la era sempre um acontecimento, e como
eram chiques aquelas suas mesas de café, com a louça linda e a toalha bordada,
luxos que ela reservava para as visitas! E depois a gente sentava na sala das
tapeçarias bordadas e passava a tarde conversando, e não quero esquecer, aqui,
que ela era a cunhada mais jovem da minha mãe e que as duas tinham sido
muito amigas na altura da Segunda Guerra, e que assunto nunca faltava nessas
conversas. Penso, agora, nas memórias da minha mãe, em como os três iam
juntos tomar guaraná numa confeitaria do centro de Blumenau, meu pai com a
namorada e a irmã, num tempo em que a juventude tornava tudo possível!
Um dia o tempo do tudo possível terminou e meu pai partiu, e o tio Fridolin,
e minha mãe, e faz poucos dias em que tia Alice também se foi, quase
centenária. Nascera a 14 de dezembro de 1923. Restamos nós, da geração
seguinte, e memórias lindas, como a daquela noite com a compota de ameixa
preta. Penso que os outros talvez tenham ficado a espera-la num caminho cheio
de luz. Mais tarde a gente se encontra de novo!
Legenda para a foto: tia Alice é a moça de vestido escuro. Atrás dela, de pé,
meu pai, Roland Klueger. Em seguida, tio Wictor, tio Oswald e tia Frieda.
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