Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 200

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 Urda Alice Klueger Tia Alice (Para Alice Klüger Hardt) Tia Alice é alguém que vem lá da minha primeira infância, antes dos quatro anos, quando minha mãe fazia uma cama no chão da sala com suas cobertas de algodão quando chegava visita e havia horas de conversas antes de ir dormir. Não me lembro do meu primo Nelson nessa altura, mas ele estava lá, já que é um ano mais velho do que eu, como também estava o querido tio Fridolin Hardt, que tão prematuramente nos deixou, quando eu ainda era jovem. Vou lembrar do Nelson um pouco mais adiante, já na Praia de Camboriú, e isto quer dizer que eu já andaria ali pelos cinco ou seis anos. Nesse tempo, eu andava tão ocupada com a vida que acontecia lá fora, no entorno da lagoa que a especulação imobiliária depois secou, que já não lembro onde a minha mãe fazia as camas das visitas. Mas lembro bem de como tia Alice era genial com suas histórias: ela convencera o Nelson de que se ele não comesse bem, ficaria tão fraco que seria arrastado por uma pandorga num dia de vento. Acho que ela vira um desenho assim no Almanaque Renascim, e fizera suas adaptações. Mais ou menos por essa época fiz minha primeira viagem rumo ao Norte - com meu pai, fomos visitar a tia Alice em Joinville, pela estreita e sinuosa estrada sem calçamento que se enredava próxima do litoral, e que era chamada de Estrada Geral. Inesquecível aquele dia, aquela noite, onde seriam eu e meu pai quem dormiríamos numa cama arrumada no chão, e no jantar que foi coroado por uma totalmente incomparável compota de ameixa preta, daquelas coisas assim que eu pensava que só existiam nos reclames das revistas femininas que a minha mãe tinha! Foi assim, pela vida afora, que meu caminho sempre foi se cruzando com o da tia Alice. Se não houvesse visitas, sempre havia os acontecimentos da família, como confirmações, aniversários, casamentos ou velórios, quando a família toda se reunia e a tia Alice estava lá. Na minha juventude, diversas vezes tive que fazer cursos em Joinville e então me hospedava na casa dela. Era a antiga casa de madeira, e se calhava de estar lá no final de semana, tio Fridolin assava churrascos para nós todos lá [197]