LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
cego e vivia de escrever ficções para uma revista literária), num tom sarcástico
em que os ouvintes perceberam um misto de cinismo e infâmia, uma quase
provocação à honrosa proposta de Anthony.
-Muito bem, senhoras e senhores, podem dividir os 10 mil entre todas as
instituições filantrópicas de nossa cidade - arrematou Franz, um imigrante
europeu, fugido de um processo por estelionato em seu país, (onde tentou
vender um castelo a um nobre francês) buscando a sorte na América. Com
isso, mostrou a todos o absurdo a que chegara a situação.
Convencidos de que não haveria mais “lances”, todos se aquietaram. O
grande vencedor seria também o maior perdedor.
Tendo anotado todas as propostas, Anthony já estava preparando os papéis
que assegurariam que o ganhador faria tal doação. Para ele havia terminado o
duelo.
Mas antes que todo o processo finalizasse, um homem se levantou e
acrescentou:
-Tenho uma proposta melhor.
Todos se voltaram para ele e Anthony perguntou:
-O
que
pode
ser
melhor
que
doar
todo
um
prêmio
para
obras
assistenciais ?
-Senhor, a regra do jogo diz claramente que o pretendente deve
demonstrar desapego material e caridade. Embora o sr. Franz nada retenha do
valor em dinheiro, pelo fato de se tornar um benfeitor para diversas instituições,
ele, com toda certeza, terá o reconhecimento e gratidão de tais sociedades, o
que, numa metamorfose se converterá em prestígio garantindo-lhe de imediato
favores e ganhos materiais.
-É bem provável, sr...
-Allan.
Embora não lhe fosse familiar, o último pretendente era bastante conhecido
na cidade. De respeitável jornalista num conceituado periódico, o “crash” tirou-
lhe num único golpe, o trabalho, a profissão, a esposa e a dignidade,
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