Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 179

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 Ricardo Ryo Goto São Paulo/SP De um caderno de notas “Digam-me agora, o que poderá, ainda, acontecer-me de pior ?” - O caso do champanha - Anton Tchekov Os anos subsequentes à quebra da bolsa em 1929, foram pródigos em fatos e histórias peculiares relativos ao enorme esforço da população em tentar superar as dificuldades provocadas pela grande depressão. Foco desse movimento que se expandiu em escala mundial, os Estados Unidos nos brindaram com narrativas de gente desesperada que a todo custo lutava para conseguir alento num caminho de incertezas. Anthony era um comerciante que sobreviveu às intempéries da dura crise e, embora visse sucumbir vários colegas, nunca perdeu as esperanças no seu tino e na recuperação econômica de seu país. Continuou investindo no seu negócio e nas pessoas que o apoiaram, e por isso conseguiu prosperar num meio em que muitos fracassaram. Na véspera do natal de 1931, procurando manifestar reconhecimento pelas graças alcançadas e ao mesmo tempo desejando incentivar no seu próximo uma atitude de desprendimento e solidariedade, fez divulgar, por um dos jornais da cidade, sua intenção de presentear, com um cheque de 10 mil dólares, àquele que demonstrasse o maior desapego material possível, bem como realizasse ao mesmo tempo, o maior gesto de caridade. Dez mil dólares ! Era mais que qualquer chefe de família ganharia trabalhando toda a sua vida arduamente naqueles tempos de vacas magras. E para isso bastaria que o concorrente declarasse sua boa vontade e doasse algum dinheiro para instituições de caridade. O anúncio dizia: “Os pretendentes devem comparecer ao salão da loja de armarinhos à rua tal...e, até à meia-noite do dia 24 de dezembro fazer suas propostas, com base nas quais o sr. Anthony escolherá um vencedor.” [176]