Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 165

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 As mulheres se ocupavam de tarefas voltadas à criação, cuidavam dos seus e dos outros, abençoavam os grãos e os plantavam, celebravam a vida - a cada novo sol que se espiava no horizonte. Além de alimentar, cabia-lhes também a tarefa de aquecer, de pedir e de agradecer, a cada inverno e verão que se passava. Entretanto, tão importante era a tarefa dos homens, que desde muito jovens já se tornavam guerreiros. Naquele local, um homem tinha que se mostrar valente e digno - e isto acontecia cedo - pois aos homens eram entregues a reponsabilidade de proteção da tribo e a provisão dos alimentos, provenientes da caça e da pesca. Neste equilíbrio viviam, cumprindo suas funções durante o dia, para que á noite todos pudessem se juntar ao redor da fogueira, como uma grande família. O sol, que já ameaçava cair por trás do monte, declarava que algumas horas já se haviam passado desde que Bremmer se sentara à beira do riacho. Apesar de toda confiança que mantinha em si, como caçador e guerreiro, ainda assim era difícil espantar o fantasma do fracasso. Depois do longo inverno, a caça ainda era escassa, porém, naquele momento, dela dependeria a celebração de sua união com Aunya e a comprovação de que ele era digno de ser o novo chefe do clã. Como um suspiro que limpa a alma, um vento forte soprou, trazendo-lhe uma ultima lembrança. Pouco antes de sua partida, junto de Aunya, debaixo do grande carvalho, caíram sobre Bremmer três folhas de tom avermelhado, e naquele momento ele disse: Veja Aunya, a Grande Mãe nos abençoa. “Voltarei com boa caça, para nossa celebração”. Reuniu então todas as suas forças e levantou-se mais rápido do que a corsa que almejava caçar. Atento a cada movimento, a cada galho que balançava ao vento, Bremmer andou. E já próximo a um território hostil, avistou o animal. Escondeu-se por trás dos arbustos, tentando manter-se calmo, para que sua respiração ofegante não o denunciasse. Tirou uma flecha do bornal, virou-se devagar e esticou-a no arco, mirando no coração, para que o animal não sofresse. Morte limpa, rápida. Pediu licença à Grande Mãe, agradecendo-a antecipadamente pela provisão recebida, porém, já prestes a lançar sua flecha, desistiu e baixou novamente o arco. [162]