LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
As mulheres se ocupavam de tarefas voltadas à criação, cuidavam dos seus
e dos outros, abençoavam os grãos e os plantavam, celebravam a vida - a cada
novo sol que se espiava no horizonte. Além de alimentar, cabia-lhes também a
tarefa de aquecer, de pedir e de agradecer, a cada inverno e verão que se
passava. Entretanto, tão importante era a tarefa dos homens, que desde muito
jovens já se tornavam guerreiros. Naquele local, um homem tinha que se
mostrar valente e digno - e isto acontecia cedo - pois aos homens eram
entregues a reponsabilidade de proteção da tribo e a provisão dos alimentos,
provenientes da caça e da pesca. Neste equilíbrio viviam, cumprindo suas
funções durante o dia, para que á noite todos pudessem se juntar ao redor da
fogueira, como uma grande família.
O sol, que já ameaçava cair por trás do monte, declarava que algumas
horas já se haviam passado desde que Bremmer se sentara à beira do riacho.
Apesar de toda confiança que mantinha em si, como caçador e guerreiro, ainda
assim era difícil espantar o fantasma do fracasso. Depois do longo inverno, a caça
ainda era escassa, porém, naquele momento, dela dependeria a celebração de
sua união com Aunya e a comprovação de que ele era digno de ser o novo chefe
do clã.
Como um suspiro que limpa a alma, um vento forte soprou, trazendo-lhe
uma ultima lembrança. Pouco antes de sua partida, junto de Aunya, debaixo do
grande carvalho, caíram sobre Bremmer três folhas de tom avermelhado, e
naquele momento ele disse: Veja Aunya, a Grande Mãe nos abençoa. “Voltarei
com boa caça, para nossa celebração”. Reuniu então todas as suas forças e
levantou-se mais rápido do que a corsa que almejava caçar.
Atento a cada movimento, a cada galho que balançava ao vento, Bremmer
andou. E já próximo a um território hostil, avistou o animal. Escondeu-se por trás
dos arbustos, tentando manter-se calmo, para que sua respiração ofegante não o
denunciasse. Tirou uma flecha do bornal, virou-se devagar e esticou-a no arco,
mirando no coração, para que o animal não sofresse. Morte limpa, rápida. Pediu
licença à Grande Mãe, agradecendo-a antecipadamente pela provisão recebida,
porém, já prestes a lançar sua flecha, desistiu e baixou novamente o arco.
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