LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
Nigra Morus
Jundiaí/SP
A tribo dos guerreiros pintados
Havia dois dias que Bremmer vagava pela floresta sem encontrar rastro
algum. O brotar das pequenas flores declarava que era chegada a hora. Sentou-
se então ao lado do riacho a fim de abastecer sua provisão de água antes de
voltar à caçada, porém sua fadiga mental – que já ultrapassara a física –
imobilizou-o por alguns momentos, levando seus pensamentos de volta à tribo,
trazendo lembranças da última noite junto da amada.
Naquela noite, a mesma fogueira, que iluminava a clareira na floresta,
pintava de vermelho os rostos embriagados daqueles que dançavam ao seu
redor, enquanto Bremmer e Aunya, em silêncio, observavam as chamas
brincalhonas, que inocentemente devoravam toda a lenha. No interior de ambos,
outro fogo ardia.
Os dois esperavam ansiosamente pelo solstício da primavera, dia em que
selariam sua união. Em seu silêncio, Bremmer vislumbrava-se como novo chefe
do
clã,
ao
mesmo
tempo
em
que
padecia
sobre
o
peso
das
novas
responsabilidades.
Aquelas foram as últimas horas antes da grande caçada.
De grandes guerreiros era formada aquela tribo, tão grandes e fortes
quanto as árvores que cercavam suas casas. Dividiam, com outras tribos, o
coração das densas florestas do velho mundo, porém cada qual vivia de acordo
com suas próprias crenças e tradições, e às vezes até se confrontavam para
mantê-las.
Herdeiros de costumes antigos, Bremmer e sua tribo reverenciavam a Terra
como seu bem mais sagrado, chamando-a carinhosamente de “Grande Mãe”, pois
através dela todo seu provento lhes era oferecido de bom grado. Apesar de
serem grandes e fortes, eram pacíficos e viviam em harmonia com a natureza.
[161]