Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 164

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 Nigra Morus Jundiaí/SP A tribo dos guerreiros pintados Havia dois dias que Bremmer vagava pela floresta sem encontrar rastro algum. O brotar das pequenas flores declarava que era chegada a hora. Sentou- se então ao lado do riacho a fim de abastecer sua provisão de água antes de voltar à caçada, porém sua fadiga mental – que já ultrapassara a física – imobilizou-o por alguns momentos, levando seus pensamentos de volta à tribo, trazendo lembranças da última noite junto da amada. Naquela noite, a mesma fogueira, que iluminava a clareira na floresta, pintava de vermelho os rostos embriagados daqueles que dançavam ao seu redor, enquanto Bremmer e Aunya, em silêncio, observavam as chamas brincalhonas, que inocentemente devoravam toda a lenha. No interior de ambos, outro fogo ardia. Os dois esperavam ansiosamente pelo solstício da primavera, dia em que selariam sua união. Em seu silêncio, Bremmer vislumbrava-se como novo chefe do clã, ao mesmo tempo em que padecia sobre o peso das novas responsabilidades. Aquelas foram as últimas horas antes da grande caçada. De grandes guerreiros era formada aquela tribo, tão grandes e fortes quanto as árvores que cercavam suas casas. Dividiam, com outras tribos, o coração das densas florestas do velho mundo, porém cada qual vivia de acordo com suas próprias crenças e tradições, e às vezes até se confrontavam para mantê-las. Herdeiros de costumes antigos, Bremmer e sua tribo reverenciavam a Terra como seu bem mais sagrado, chamando-a carinhosamente de “Grande Mãe”, pois através dela todo seu provento lhes era oferecido de bom grado. Apesar de serem grandes e fortes, eram pacíficos e viviam em harmonia com a natureza. [161]