Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 162

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 Nathália Hernandes São José do Rio Preto/SP A própria força Finalmente aceitava que era forte. Talvez houvesse sido a coisa mais difícil de ser aceita por ela, que estava acostumada a sentir-se inferior. Por tanto tempo, pensara que era assim mesmo e que podia ser bom. Mas nem sabia o que era bom de tão habituada ao ruim. Quando vê-se como menos, como não importante ou insignificante, é fácil aceitar os lugares pequenos e apertados: pede-se desculpas ao tentar esticar as pernas e mesmo ao sentir dor por ter os dedos espremidos. Não há sentimento de dignidade naqueles sítios. No momento em que descobriu ser forte, ficou de pé e destruiu o casebre miserável onde vivia com todos os outros. Eles, rapidamente, procuraram outro lugar abjeto para subsistir, ela, pela primeira vez em que sabia de si realmente, aceitou o Sol que queimava sua face, pois não o conhecia, de tão acostumada à escuridão e à clausura. E aceitou a dor que cozinhava junto da beleza, e que mexia em todos os lugares que ela nem sabia que existiam nela. Antes de seguir por uma estrada difícil e útil, sentou-se diante do mar, e agradeceu por sua força, que agora via, era imensa e muito bonita. Não entendia porque se escondera com ela, por tanto e terrível tempo. Facebook: https://www.facebook.com/nathalia.hernandes.9 [159]