LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
Nathália Hernandes
São José do Rio Preto/SP
A própria força
Finalmente aceitava que era forte. Talvez houvesse sido a coisa mais difícil de
ser aceita por ela, que estava acostumada a sentir-se inferior. Por tanto tempo,
pensara que era assim mesmo e que podia ser bom. Mas nem sabia o que era
bom de tão habituada ao ruim.
Quando vê-se como menos, como não importante ou insignificante, é fácil
aceitar os lugares pequenos e apertados: pede-se desculpas ao tentar esticar as
pernas e mesmo ao sentir dor por ter os dedos espremidos. Não há sentimento
de dignidade naqueles sítios.
No momento em que descobriu ser forte, ficou de pé e destruiu o casebre
miserável onde vivia com todos os outros. Eles, rapidamente, procuraram outro
lugar abjeto para subsistir, ela, pela primeira vez em que sabia de si realmente,
aceitou o Sol que queimava sua face, pois não o conhecia, de tão acostumada à
escuridão e à clausura. E aceitou a dor que cozinhava junto da beleza, e que
mexia em todos os lugares que ela nem sabia que existiam nela.
Antes de seguir por uma estrada difícil e útil, sentou-se diante do mar, e
agradeceu por sua força, que agora via, era imensa e muito bonita.
Não entendia porque se escondera com ela, por tanto e terrível tempo.
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