Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 142

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 Marcos Andrade Alves dos Santos Canaan/Trairi/Ce A lagoa encantada – Que lagoa mais linda! – Disse para ela, emocionado com aquela visão que se fazia no lençol da noite. Estávamos sentados em cima de uma grande pedra, cercados pelas criaturas da escuridão. Vagalumes cobriam o capim e subiam acima da copa das árvores, com certeza queriam se fazer de estrelas. Grilos se escondiam por entre as folhas e descambavam a cantar com as pernas. Músicas diversas encantavam a noite. Também as corujas gritavam melodias tristes. Ao largo víamos morcegos voando e se embelezando de escuridão. O céu estava maravilhoso. Adornado de estrelas amarelas, o infinito sorria com olhos azuis. Todas as nuvens tinham partido da noite. Elas também são criaturas que migram. Assim, as estrelas podiam ser vistas dançando. Seu balé maravilhoso espalhava o brilho desde o insondável até as águas sedentas da lagoa. Mas a lua também acendia as águas com seu brilho do dia. Eis o mais belo retrato do dia: a lua que reflete a imensidão luminosa. As estrelas diziam aos vagalumes para se conhecerem: – Somos tão profundas quanto à noite e tão breves quanto o brilho de suas lanternas. Somos como vocês. Tudo se assemelha por causa do fio que os liga. É a noite que liga todas essas criaturas. Sem ela, nenhuma delas poderia existir desse jeito magnífico. É por isso que todos agradecem a noite, como também o faz lagoa. Cheguei aqui por meio de encantes. A bela moça de cabelos escuros me trouxe para ver, quer dizer, para sentir em profundidade o mistério das águas. Porém, ela não me disse o seu nome. Não quis lhe interromper a imaginação, pois seus olhos estavam fixos na água. Seu sorriso não mostrava os dentes, mas nele se via ilusão, aquela qualidade que só quem se pertence ao encantamento possui. Desde que me sentei sobre a pedra, em sua presença, que procuro entender o que se move dentro das águas e que lhe seduz a visão, iluminando seu sorriso. Além da luz maravilhosa, alguém se movimenta. E não posso ver bem, até que se aproxime mais para o centro da lagoa. [139]