LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
Espera.
Acelera.
Espera.
Acelera.
Perde a paciência.
Buzina, não adianta de nada.
Encosta o rosto no volante e fecha os olhos se esforçando para não surtar.
– É só mais um minuto. É só mais um segundo.
Chega ao trabalho depois de ter passado na rua quase o mesmo tempo que
passou tentando dormir na noite anterior.
Levanta-se.
Saí pela porta do motorista.
Entra no prédio.
– Bom dia, tudo bem?
– Tudo ótimo.
Mentem, mas os dois sabem que ninguém realmente quer saber se a outra
pessoa está bem quando pergunta como ela está em um cumprimento, é só uma
tradição inquestionável que busca parecer simpática, mas no fundo não tem
sentido algum. Quem se importa?
Sobe as escadas atrasado.
Chega na sua cabine de trabalho em que estão um computador velho em cima de
uma escrivaninha e uma cadeira de rodinhas que range quando se tenta tirar ela
do lugar.
Senta-se.
Liga o computador e faz quase o mesmo do que fez ontem: Planilhas,
estatísticas, formulários, questionários públicos cujos resultados ele nunca sabe,
porque não trabalha com isso e não faz muita questão, porque não tem tempo
para discussões e para criar mais problemas além daqueles que já estão postos a
ele.
Digita.
Lê.
Digita.
Lê.
Digita.
Lê.
Perde as energias.
Boceja, não adianta de nada.
Encosta o rosto na mesinha e fecha os olhos se esforçando para não surtar.
[86]