LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
Charles Burck
Rio de Janeiro/RJ
Poema
Estar morto sem limpar a ferida seria, de fato, muito pior
O gato olha o pombo, olhos atravessados e estáticos
Há hábitos tão antigos quanto a vida
A religião e a heresia
A fidelidade e a bigamia,
O amor de um, os de dois, os de muitos
As crianças fazem fotos dos casais, as esposas atentas se desviam dos beijos
Em algum tempo os amantes haverão de voltar e se amarem mais vezes
Hoje os pombos comem arroz e os gatos passam fome,
A fome dos ingratos tingindo muros, quintais e igrejas,
As sonoridades de alguns nomes passeiam no parque em dia de sol
Alguns anjos deixam o pombal
Os amimais no cio zombam dos homens
Há muitas mulheres da minha infância nas minhas lembranças
As que cuidaram, as que tinham fome, gulas maiores que a pança,
Outras fomes maiores, as que desciam abaixo do nível dos olhos
Que por vezes gozaram outras sangraram
Sou arredio a deixar os poemas sem finais
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