LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019
Maria do Carmo Almeida Corrêa
Bauru/SP
Qero ver os gambazinhos
Setembro. Quase dia da pátria. A Amazônia continua em chamas. Meus olhos
ardem. Nas redes sociais dizem que um garoto foi chicoteado. A gente vê e lê
muita coisa nas redes sociais. O jornal, larguei aberto na mesa da sala. Parecia
gritar. Tem dia que eu não aguento. É a bala perdida que encontra um alvo
(im)provável, é a censura pisoteando a arte, é um que mata, um que morre,
outro mata, outro morre... Ligo a tv, desligo, penso na pátria que eu tinha, na
que tenho, na valorização do tosco, na destruição de tudo o que a gente
construiu nem que fosse em sonhos... A gente sonhava grande.
Estou longe da Amazônia, nunca vi um verdadeiro incêndio, mas meus olhos
ardem. Contrariando o ditado, penso eu, a esperança morreu antes de nós.
Toca o interfone. A vizinha quer uma informação qualquer. Conversamos um
pouco e ela diz - Agora preciso alimentar os filhotinhos.
— Que filhotinhos?!
— Três filhotinhos de gambá. Recém-nascidos.
Ela se empolga. Conta de como coloca leite na boquinha deles com conta-
gotas. São tão pequenininhos, diz.
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