Revista LiteraLivre 18ª edição | Page 140

LiteraLivre Vl. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019 Olá Lorena, vamos entrar! Tenho algo para contar, eu estou indo na Relembradora e melhorando de meu trauma, nem estou mais frequentando a psicologa. Que bom, eu também quero contar algo. Relembrei a memória de uma noite de amor com meu amante. E lembra o nome dele? Não, mas foi muito bom. Quem sabe se lembre depois. É melhor eu ir andando pois tenho algumas coisas para fazer. As duas despedem-se e a vida segue. Adolfo sempre teve o sonho de aprender a dirigir e decidiu ir até a Relembradora sem contar para a família. Ao sair de casa sentiu um misto de medo e alegria que se prolongou por todo o caminho: Bom dia Senhor! Bom dia. Falou ternamente. Por favor, sente-se. Suas mãos estavam trêmulas, mas com a ajuda do funcionário colocou o capacete. A visualização começou, olhou para o lindo carro preto que brilhava, deslizou a palma da mão pela porta, tocou a maçaneta cromada, sentiu o agradável barulho da porta abrindo, entrou, olhou para os bancos, sentou-se devagar e esperou a esposa e os filhos entrarem. Estava feliz e queria compartilhar esse momento então olhou ternamente para a esposa e tocou em sua mão no que ela sorriu. Sinto-me tão confortável dentro desse carro, é como se eu o tivesse há muito tempo. A esposa olhou-o com ternura. Adolfo ligou o carro e ouviu um som harmonioso, então começaram a andar lentamente e tudo aquilo trazia-lhe emoção aos olhos, o movimento lento, as pessoas, o vento. As pessoas acenavam e ele retribuía, era muito bom. [137]