Revista LiteraLivre 17ª edição | Page 18

LiteraLivre Vl. 3 - nº 17 – Set./Out. de 2019 aBel gOnçalves São Paulo/SP Um poema de cada vez Vi um homem comendo Ao invés de lixo, Livros. Catava letras, nos lixões da vida – Meu Deus! E ofertava para pessoas comuns Saboreava cada paroxítona Comerem. Como se última fosse. Era um sádico Ditongos flutuavam, Um sábio Hiatos riam alucinados, Um ser ímpar Palavras insubordinadas Em meio a massa Dançavam no embalo Mecanizada Do caos maldito. Pela força descomunal do Orações complexas Senso comum. Saltitavam Começou a devorar poemas, Por entre frases de protestos. Um por um, um por dia, Não havia pretexto, Um livro de cada vez Havia contexto reacionário. Pra não perder as vozes. Houve boatos E cada poema digerido Que o homem havia ficado louco. Percebeu que uma estrela Ao invés de cachaça Brilhava no céu. Bebia fragmentos de ideias, As palavras não fediam mais Ao invés de cigarros, Tinham gosto de escândalo Nuvens tóxicas de pensamentos No viés da hipocrisia. Inebriavam o ar, https://www.recantodasletras.com.br/autores/AbelGoncalves [15]