LiteraLivre Vl. 3 - nº 17 – Set./Out. de 2019
aBel gOnçalves
São Paulo/SP
Um poema de cada vez
Vi um homem comendo Ao invés de lixo,
Livros. Catava letras, nos lixões da vida
– Meu Deus! E ofertava para pessoas comuns
Saboreava cada paroxítona Comerem.
Como se última fosse. Era um sádico
Ditongos flutuavam, Um sábio
Hiatos riam alucinados, Um ser ímpar
Palavras insubordinadas Em meio a massa
Dançavam no embalo Mecanizada
Do caos maldito. Pela força descomunal do
Orações complexas Senso comum.
Saltitavam Começou a devorar poemas,
Por entre frases de protestos. Um por um, um por dia,
Não havia pretexto, Um livro de cada vez
Havia contexto reacionário. Pra não perder as vozes.
Houve boatos E cada poema digerido
Que o homem havia ficado louco. Percebeu que uma estrela
Ao invés de cachaça Brilhava no céu.
Bebia fragmentos de ideias, As palavras não fediam mais
Ao invés de cigarros, Tinham gosto de escândalo
Nuvens tóxicas de pensamentos No viés da hipocrisia.
Inebriavam o ar,
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