LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019
Espera
Aparecida Gianello dos Santos
Martinópolis/SP
Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu: tempo de
nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou...
(Eclesiastes 3)
Não havia mais lugar no mundo que me preenchesse mais do que a velha
pracinha nos meses de inverno. Eu e os ipês tínhamos uma coisa em comum,
afinal. Talvez fosse esse o motivo de tanto entrosamento: a longa e silenciosa
espera, em meio ao frio e secura do tempo – sonhávamos mesma primavera. Ali
eu passava minhas manhãs. Complacente, o sol aquecia meu frágil corpo,
enquanto a brisa, ligeiramente álgida, trazia-me as mais prazerosas lembranças.
Poliana. Era este seu nome, mas chamava-lhe carinhosamente “Flor”. E
ficávamos assim, eu e meus velhos companheiros, sempre juntos, aninhando
saudades. Nessa longa e silenciosa espera, também eu era ipê.
Era julho quando eles se conheceram naquela pracinha, rodeados de majestosos
ipês, seus mais nobres expectadores. Apaixonados, casaram-se logo. Jovens que
eram, não sabiam ainda sofrer longas esperas. E foram felizes, até que... Poliana
partira. Para sempre, em consequência de um cancro. Por causa disso, ele nunca
mais vira a primavera dos ipês, não do mesmo jeito. Tudo agora perdera a cor, o
gosto, o sentido...
Eram tantas lembranças brotando em minha mente, que já não tinha mais
espaço para pensar numa maneira de fugir ou provocar um embate. Não sabia
mais que dia, nem que mês eram. Não sabia mais das horas, se era cedo, se era
tarte. Tampouco sabia o que fazia trancado naquele incômodo escuro e frio. Não
sabia mais o que esperar... A cabeça doía, como se houvesse levado uma
pancada ou algo assim, não que me lembrasse o acontecido. Eu, aliás, só tinha
esta
certeza:
estava
agora
completamente
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sozinho.
Meus
companheiros