Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 91

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 Espectador Luzitânia Silva Presidente Tancredo Neves/BA Acordei. O calor me tomava por completo. Tempo abafado, sensação estranha. O corpo doía por inteiro. Não sabia qual parte apresentava mais dor: se os braços, as pernas, a cabeça ou as costas. Só compreendia que o conjunto da obra estava um caco. Tentei levantar. Minhas pernas não queriam responder aos comandos, parecendo haver uma queda de braço entre meu cérebro e elas. No fim das contas, não existiam vencedores. Depois de um tempinho, não sei como, consegui ficar de pé, visualizar a cena e me assustar com o que vi. Quase tive um troço ali mesmo. Senti meu coração disparar e um frio percorrer por minhas entranhas, ao menos acredito ter sido desta forma o sentimento. Havia uma multidão em minha casa. Nunca vi tanta gente assim no ambiente rústico e aconchegante do meu lar. Nunca! Pessoas comiam, bebiam, conversavam. Parecia uma festa. Mas de quem? Não fui convidado! Contavam piadas, riam... Alguém chorava num canto, acho que era Mariana. Sim! Era ela! Minha irmãzinha amada. Mas porque estava tão triste com aqueles lindos olhos tão avermelhados? Apertava o peito com as mãos e os cabelos volumosos ondulados estavam despenteados. Eu fui lentamente para o seu lado. Ignorei minha impossibilidade de locomoção. Falei com ela e fui ridicularmente ignorado. Por mais que eu gritasse, esperneasse, mostrasse-me compadecido, ela não me respondia. “Coisas de adolescentes”! - Pensei, deixando-a sozinha. Noutro canto vi minha mãe. Havia uma estranheza em seu modo de agir. Movia- se preguiçosamente, olhava para algum lugar e se perdia no tempo. Minha tia se sentou ao lado, deu um copo com água a ela, acho que continha algum remédio. Minha mãe tentou repreendê-la, sem êxito. Pouco depois, dormia feito um anjinho. 88