Revista LiteraLivre 16ª edição | Page 239

LiteraLivre Vl. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019 tomasse a iniciativa, com receio de invadir a privacidade da pessoa amada, com medo de não ser correspondido. O silêncio predominava e a expectativa e o desejo de que o parceiro o tomasse em seus braços crescia a cada respiração ofegante. Esperava que o marido enxergasse essa reação,que percebesse o quanto ainda o desejava. Quando ele saiu do banho, ela estava com a camisola vermelha, perfumada, ansiosa. Esperava-o,embora de uma forma tímida e introspectiva. Pedro deitou-se ao lado da esposa, com esperança de ser notado, de que, finalmente, Simone percebesse que precisavam desses momentos, que o amor precisava, não só ser declarado, mas também sentido . Ambos esperavam, ansiavam. - Te amo muito, amor. - Também te amo muito. Nenhuma carícia, nenhum aconchego, nenhuma iniciativa. “Preciso dizer algo, mas não posso magoá-la, e se ela não quiser? Há anos parece não sentir desejo.” “Tomara que ele me procure hoje,precisamos fazer algo, nosso casamento vai acabar assim.” O tempo passava, um esperava alguma iniciativa do outro. Passaram-se minutos, longos minutos, que mais pareciam horas. Simone recordara das vezes em procurava motivos para brigar com o marido, queria despertar algum tipo de reação da parte dele, nem que fosse de raiva, ciúmes, agressão. Em vão, a amizade predominava, sempre resolviam com diálogo e respeito. -Boa noite, amanhã temos que acordar cedo para irmos à lotérica. -Boa noite, amor. As frases gritavam em suas mentes, de forma exacerbada. A vontade de gritar que se importavam, que precisavam viver, era grande. Nenhuma palavra foi pronunciada. Nenhuma iniciativa foi tomada. Faltava entusiasmo, êxtase. Simone não se imaginava ao lado de outra pessoa,porém, não havia mais o que viver com o marido. Vozes gritavam e ecoavam em suas entranhas,perturbando o seu sono. Sentia-se esvanecer.Estava moribunda, presa a um corpo vívido. https://www.facebook.com/clarice.assis.9 236